quinta-feira, 10 de julho de 2014

Domingo

O futebol por si só é uma caixinha de surpresas, como parece já ter dito alguém. Não bastasse, o velho Sobrenatural de Almeida deu as caras nessa Copa como havia muito não. Além disso, serão cinco títulos mundiais em campo, outros muitos vices; duas camisas poderosíssimas, duas seleções com sede de levantar o caneco há muito tempo.

Por essas e outras razões, não há previsões a se fazer acerca do que ocorrerá no Maracanã no próximo domingo. Bola por bola, a Alemanha jogou muito mais no Brasil. Aquele comentarista caipira diria até que a superioridade do futebol alemão nesta Copa é tanta, que a Argentina levará a taça. Eu não chegaria a tanto, mas tenho que reconhecer que, nos termos da metafisica do futebol, quatro-a-zeros e sete-a-uns credenciam bem menos do que as vitórias temperadas a suores, lágrimas e sangue. Mas também não foi isso tudo que se chegou a ver do outro lado; antes, um dedicado esforço para superar as suas próprias limitações.


Façam suas apostas, pois, senhores. Especulem, debatam, simulem, bebam. Até porque, depois, só daqui quatro anos.  

Antes, porém...

… temos nosso derradeiro confronto, frente os laranjas. A nação inteira está convocada a reunir o resto de suas exauridas forças para não deixar nossos meninos sozinhos na hora final. Para que possamos fazer uma despedida que honre a dedicação e a gana que o Escrete encampou nessa Copa, como há tempos não se via.


Chegando ao fim

O melhor Mundial da minha vida vai chegando ao fim. Pelo futebol que se jogou, pela festa que se fez, pelos significados todos que passou a encampar, pela possibilidade de ver em ação, ao vivo, quatro camisas campeãs do mundo, esta Copa deixará neste cronista uma imensa saudade.

Até a tristeza de nossa inacreditável derrota acabou por dar cores e traços únicos ao que vivemos. Uma história a mais para o grande cabedal que angariei nesse um mês de futebol total, a ser transmitido, assim espero, para os netos.


E é por tudo isso que eu, sinceramente, só posso agradecer, agradecer e agradecer.

Argentina x Holanda

Os dois gigantes do futebol repetiram o confronto da final da Copa de 78. E mais uma vez o desfecho foi favorável aos platinos. Depois de um primeiro tempo disputado e até agradável, o que se viu no segundo e na prorrogação foi um jogo truncado, de muita marcação, sem ousadia nem inspiração de parte a parte.

Se não puderam contar com o talento de um Ardilles, a segurança de um Passarella, ou com a letalidade de um Kempes, o time alvi-azul meteu trancas e ferrolhos na defesa, contou com a garra e a competência incansáveis de Mascherano (melhor atuação individual argentina nos jogos que vi) nos desarmes do meio, e não deixou a Laranja jogar. Sneider perdeu feio a briga no meio-de-campo, Robben muito bem marcado não pode encaixar o seu jogo e, como consequência, Van Persie não pegou na bola. Na frente, contudo, a competência argentina não foi a mesma. A falta de Di Maria foi sentida. Messi, bem marcado, mas apático, fez sua pior partida na Copa. Higuain não jogou mal, mas teve pouquíssimas chances.

Resultado: um eloquente zero-a-zero. Até que nos penais os hermanos puderam prevalecer-se da camisa, da garra, da torcida.


Retratação

Eu que tenho verdadeiro desprezo por essa novel crônica esportiva forjada no controle remoto e no sofá, sinto-me no dever de manifestar publicamente minha retratação em relação a esse que para mim era a encarnação do tipo: Paulo Vinícius Coelho, codinome PVC.


Para mim o jornalista sempre representou o supra-sumo desse futebolismo erudito, com números, estatísticas, teoremas, teorias, análises, filosofias. E certezas, muitas certezas. Mas o que se viu na sequência da derrota brasileira da Terça-feira Negra, foi um semblante desarvorado e um indisfarçável travo na garganta. Por detrás das pranchetas, computadores e info-gráficos, apareceu um menino atônito, de calças curtas e olhos incrédulos: o menino do espelho de 1982. Vi um amor e uma emoção puros, como só o futebol pode despertar. Como só os apaixonados pelo futebol podem experimentar. 

A redenção

Minha avó sempre disse para ter cuidado com o que a gente pede aos céus. Para aqueles que tanto sonharam e pediram a redenção da derrota de 50, ela acabou finalmente vindo. Obviamente, da maneira que ninguém poderia imaginar.


Mas o certo é que, desde a última terça-feira, o “Maracanazzo” deixou de ser a maior tristeza do futebol brasileiro. Barbosa poderá, finalmente, descansar em paz.  

A maior de todas as derrotas

O Brasil pôde testemunhar no Mineirão nesta última terça a sua maior derrota de todos os tempos: o “olé” cantado da platéia para o Escrete. Acho que nunca na vida vi uma demonstração mais cabal de pequenez coletiva. Não do povo brasileiro, claro, que ali não estava. Mas de um estrato abjeto, nauseabundo e infame da população que habita o país, que mostrou ao mundo ao vivo e a cores o resumo perfeito de seu modo de ser e existir. O abandono e a humilhação do companheiro de trincheira, justamente quando ele se vê no seu mais difícil momento é a ilustração perfeita do caráter dessa escumalha.


A esses poderia dizer que devoto meu mais profundo desprezo, mas faltaria com a verdade. Anotem, pois: dedicarei todas as energias da minha vida, do meu canto, da minha pena, da minha luta, para livrar o país dessa escória. Peço aos deuses, todos os dia, que minha mão não trema na hora de cortar-lhes a garganta.

A falta que ele fez

Impressionante. Sabia-se que ele faria falta. Sabia-se que era uma referência mais que fundamental no time. Nossa única certeza, talvez. Uma unanimidade, como não? Nem o mais arguto dos analistas, porém, seria capaz de antever o quão brutal seria o despencamento no nível do futebol jogado pelo Escrete com a ausência do craque. Jamais se poderia supor o tamanho do estrago.  Ouso dizer que se lá ele estivesse, ao menos o tamanho da tragédia não teria sido o que foi.


Mas a verdade, senhores, que nunca na história da Seleção Brasileira uma falta foi tão sentida. Refiro-me, obviamente, ao capitão Thiago Silva.

Na bola

Por mais que se procure por explicações para a retumbante derrota do Escrete para a Alemanha nesta terça, o fato simples e evidente é que perdemos na bola. Os alemães tem um bom time, o melhor da Copa. A seleção brasileira simplesmente deixou que executassem sem nenhuma oposição o que se programam e treinam para fazer – e fazem com uma impressionante eficiência.

Claro que os assombrosos números demandariam uma causa extraordinária qualquer, mas tenho para mim que isso fica no terreno do imponderável absoluto que circunscreve o futebol. Como um objeto que, largado de uma determinada altura, de repente não caísse, mas ficasse suspenso eternamente, desnorteando os espíritos acostumados a ver na queda tantas vezes repetidas uma lei inexorável e peremptória – com a devida licença do David Hume e do Alberto Mussa. A bobeira súbita e absoluta do time canarinho - de tantas glórias, de tantas vitórias – e, principalmente, a anormal avalanche de gols que se marcaram neste ensejo, em meu sentir, pertencem a essa categoria de fenômenos.


Observações aqui e acolá podem ser feitas, obviamente. À convocação, à escalação, às circunstâncias que cercaram o jogo etc. Pontuais, todas. Nenhuma dá nem nunca dará conta do desastre. Podemos, e talvez devamos, com calma, escarafunchá-las. Aos que creem que isso se faça necessário para evitar outros desastres no futuro, digo sem medo de errar: algo assim não tem como se repetir. Nem será capaz de nos fazer superar a tragédia. Poderá, na melhor das hipóteses, nos ajudar a conviver com a sua realidade inafastável e eterna.   

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Clap, clap, clap, clap!!!



Mister, em absoluto, aplaudir de pé o selecionado, a torcida, a nação costarricense. Uma página que tão cedo não será apagada da história do esporte bretão.

Holanda x Costa Rica

O mais surpreendente dos confrontos das quartas, mas com um resultado previsível. Como todos os demais, aliás. Mas que foi por pouco, foi.

A Costa Rica fez muito mais que uma despedida honrosa: por um triz não despachou os poderosos vice-campeões do mundo. O goleiro Navas, com atuação histórica, seria o destaque da partida, não fosse a ousada substituição do arqueiro holandês somente para a disputa de pênaltis. Um lance astuto, que apostou alto e deu certo. Não tivesse dado, Van Gaal estaria agora dependurado na cruz imaginária reservada aos mártires do futebol, clamando por uma morte rápida.


Argentina x Bélgica

Os hermanos fizeram sua melhor partida, taticamente muito bem executada, mas ainda sem encher os olhos. Acharam um gol no início, como nós, como os germanos. Congestionaram o meio, marcaram muuuuito atrás. E a Bélgica sentiu o peso da camisa. Foi o que se viu.

Di Maria junta-se a Aguero no estaleiro. Higuain pareceu reestabelecido. Messi não brilhou ainda, continua jogando pro gasto, o que reputo apavorante. Agora defrontarão, finalmente, um adversário senão superior, ao menos que vem jogando melhor. O resto, meus caros, são prosopopéias. Com todo, mas TODO o devido respeito.


Brasil x Colômbia

Todo o mais que poderia ser dito e escrito, toda análise, toda comemoração, todo alívio, todos os etcéteras imagináveis têm que dar lugar, inelutavelmente, à fatalidade da perda de Neymar. Pela perda em si, claro, mas sobretudo pela maneira como se deu, com ares trágicos como há tempos não se via, ao vivo e a cores para os quatro cantos do Orbe. Guardadíssimas as devidas proporções, graças aos Deuses, vendo ali o choro desesperado do nosso menino, acho que não se sentia um tamanho travo na garganta da nação desde que Senna se espatifou na Tamburello.

E análises mais não cabem, mesmo. Porque agora tudo e qualquer coisa pode acontecer. Quem entra no lugar, se Felipão fecha o meio com outro volante, se coloca um meia, se muda o esquema, se sacrifica A ou B, tudo parece pouco relevante em face da pergunta capital: como repercutirá sobre o espírito do Escrete a saída de seu melhor jogador num momento decisivo. Temos exemplos históricos nos dois extremos, de 62 a 98 (toc, toc, toc). Temos o Uruguai desta Copa. Mas temos, acima de qualquer coisa, o imponderável, o extraordinário, o inesperado de que tanto falamos. Ninguém imaginaria que viria na forma que veio, claro; e ninguém, mesmo, em sã consciência, poderia querer. Mas o fato é que temos diante dos nossos olhos o ingrediente trágico que julguei capaz de unir a nação, a torcida, o time, a crônica em torno do Escrete. E tirando os imbecis militantes - tão destemidos, tão persistentes -, pelos quais jamais me deixarei derrotar, creio firmemente que esta coalizão virá.

No butiquim, reduto último da palavra, como disse o Poeta, quando da chegada da notícia da contusão, ecoou a frase do Otto Lara que parecia resumir esse sentimento: o mineiro só é solidário no câncer. O brasileiro só se une na tragédia.

Que venham os alemães! Aguardamo-los. Em Minas Gerais.


Alemanha x França

Um jogo truncado, estudado, tático. A Alemanha mudou completamente seu modo de jogar, fixando Klose no comando de ataque, puxando Lahn para a ala direita, no lugar do quarto zagueiro em linha que até então vimos. E deu certo. Porque deu. O gol precoce facilitou muito a tarefa, claro, mas o fato é que o esquema foi eficiente em não deixar a França gostar do jogo. O congestionamento no meio impediu a troca de passes rápida dos franceses, sua principal arma. E Neuer fez um partidaço.


O time francês teve o que mereceu dos deuses do futebol, como eu aqui previra. É um time jovem, claro, pode ainda dar caldo, desde que entenda que futebol não é apenas brincar de bola com os pés. O choro do garoto Griezman, tão blasé até então, pode ser o começo.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

QUE COPA!!!

Muitas e muitas coisas podem ser e estão sendo ditas sobre esta Copa. Mas acho que uma é absolutamente inescapável: QUE COPA!!!

Um futebol que não se via assim, no conjunto, enquanto técnica, estética, estilo, competitividade, seguramente desde o Mundial da Espanha, em 82. Podem desfiar o rosário da memória. Além de tudo, equilibrado, enigmático, surpreendente.


E uma alegria, um astral, um envolvimento, uma festa digna dessa que talvez seja a mais fascinante das brincadeiras modernamente engendradas pelo espírito humano: o futebol, sim senhor! Em seu mais sublime momento! A despeito de todas as desimportâncias. 

Ora me perguntareis...

... por óbvio: e Brasil e Colômbia? Mas eu não brinco com coisa séria.  

A hora dolorosa e roxa

Agora é a hora da onça beber água. As quartas-de-final, o filé minhom, o mel na chupeta. E se ninguém teve vida fácil nas oitavas, à exceção inesperada, talvez, da Colômbia, a coisa agora se torna absolutamente imprevisível.

Alemanha e França farão um duelo de gigantes, pelas camisas, pelo futebol mostrado nesta Copa, pela rivalidade histórica dentro e fora dos gramados, pela quase oposição de estilos. Os germânicos jogam o jogo cadenciado, paciente, tático, pensado, com muita movimentação e qualidade. Os franceses tem um futebol impetuoso, rápido, preciso nos passes. As equipes são hábeis e técnicas em suas propostas. Tudo para um jogo histórico. Meu palpite, já deixado escorrer pelas frestas desta coluna, é completamente metafísico. Mas aposto nele, porque, mais uma vez, há muito mais coisas entre as quatro linhas do que pode supor toda a grande filosofia. Alemã ou francesa.

Holanda e Costa Rica terão o embate aparentemente mais previsível. Costa Rica virá desfalcada, extenuada, possivelmente mais relaxada por uma inafastável sensação do dever cumprido. Que foi, não se pode negar. Os laranjas, por sua vez, sabem que tem que administrar o calor de Salvador e o que lhes resta de força física, uma de suas maiores armas, com vistas aos possíveis próximos dois jogos. Torceria eu, loucamente, por uma improvável vitória centro-americana, pela simpatia da participação costarricense dentro e fora das quatro linhas. Mas, nessas condições, contentar-me-ei com uma despedida honrosa.

Argentina e Bélgica disputam talvez o mais enigmático dos confrontos. Futebol por futebol, time por time, os diabos jogaram muito mais até aqui. A defesa alvi-azul, que não é exatamente uma maravilha, vai se deparar com a velocidade, técnica e força física dos europeus. Mas a Argentina é a Argentina. E quarta-de-final é quarta-de-final. Além do mais, noves fora, Messi. Que não é pouco, principalmente se resolver acordar.


Virando a página

Dois duelos fecharam a fase de oitavas-de-final que acabou por barrar, de maneira inédita, acredito, todos os que não se sagraram campeões de suas chaves na etapa inicial.

Argentina e Suíça fizeram um jogo tecnicamente ruim, chato, pouco criativo, difícil de assistir. Eu que só vira direito os hermanos na sua estréia contra a fraca Bósnia impressionei-me com sua incapacidade de variar jogadas. E olha que Di Maria esteve bem, aparecendo bastante para o jogo, chamando a responsabilidade. De toda sorte, a bola dominada na entrada da área por um ainda não muito inspirado Messi é sempre uma arma poderosíssima. Imaginem se o homem resolve realmente jogar tudo o que sabe e pode.... E é a Argentina, com sua gana, sua camisa, sua torcida imensa e febril.

Já Bélgica e EUA fizeram um partidaço, muito disputado, técnica e taticamente interessantíssimo, emocionante no final, um dos melhores da Copa. Os belgas levaram a melhor fazendo valer uma superioridade técnica e física que, se não foi acachapante, foi efetiva, com destaque para o habilidoso e rápido meia-atacante Origi e o atacante Lukaku, que o substituiu, fez o passe para o primeiro gol e marcou o segundo. Já os EUA demonstraram uma bravura e entrega poucas vezes vistas, com destaque para a atuação histórica do goleiro Howards – no que talvez tenha sido a melhor atuação individual de um atleta no certame -, da qualidade e dedicação do zagueiro Gonzales e do meia Bradley. Este colunista, que não é exatamente um amante do que representam os Estados Unidos da América no mundo, confessadamente lamentou o inacreditável gol perdido pelo zagueiro Wondolowsk aos 47 do segundo tempo.


E agora, senhores, é a hora de ver quem tem garrafa vazia pra vender.

Sigo

Diversas cartas chegaram à redação desta coluna, aconselhando o redatora destas linhas a antecipar sua aposentadoria, em vista da acachapante bola fora acerca do jogo entre argelinos e germanos.

O signatário agradece, comovido, mas declina. Malgrado tenham os leitores completa razão em relação ao crasso erro de avaliação, isso só reafirma a disposição para seguir em frente com este modesto artifício, cumprindo que está, ainda que aos trancos e barrancos, seu intento precípuo: ser a tribuna de um torcedor comum, que se vale destas epifanias futebolísticas quadrianuais para se dar o direito de estampar para posteridade neste asséptico espaço o que normalmente, no lapso que as separa, só desperdiçaria alegremente pelos butiquins infectos e arquibancadas carcomidas.


Ademais, é isso: especialistas estão aí aos borbotões. Ex-jogadores, ex-árbitros, ex-jornalistas, cartolas, treinadores. Todos com cursos, currículos e muitas, muitas horas de campeonatos europeus via telinha. E erram tanto quanto - ou mais - a despeito de quererem vestir os seus pitacos dos farrapos de uma autoridade difícil de convencer. Nós, entretanto, acreditamos que a falseabilidade encarna essencialmente a força motora de qualquer ideia. E o que não sabemos dessa fascinante brincadeira, aprendemos bem longe dos canais televisivos por assinatura.  

Mama África

Falando em continente negro, mais uma vez carecemos das seleções da África sub-saariana nos momentos derradeiros do certame Mundial. Os africanos não repetiram no Brasil as boas presenças de copas passadas. Camarões, cheio de problemas, não disse a que veio. Gana jogou um futebol abaixo do que mostrou ser capaz nas edições passadas, levando o troco das pretéritas eliminações do selecionado estadunidense. Costa do Marfim, ainda que roubada vergonhosamente no lance capital contra a Grécia, não conseguiu emplacar o bom futebol jogado na estréia contra os japoneses. Exceção honrosa para os Nigerianos, que mesmo não empolgando na primeira fase, conseguiram jogar de igual para igual contra a França, impondo seu padrão de jogo e fazendo jus à escola que tão bem representam, prejudicados pela lesão faltosa em seu melhor jogador no momento em que a peleja estava equilibrada e no auge da tensão.

De toda sorte, não sendo mais a surpresa de outros tempos, com seus melhores jogadores exaustivamente manjados pela superexposição dos gramados europeus, presas fáceis da estrutura devoradora do capitalismo esportivo, e sabidamente vergastados pelas críticas condições sócio-político-econômicas a si impostas por uma iníqua estrutura internacional, os países da África Negra  talvez estejam vendo seu outrora tão promissor futebol diante de uma encruzilhada histórica. Fato é que a tendência que atualmente se desenha é que frustrem as expectativas suscitadas 30 anos atrás e estacionem como coadjuvantes do duelo hegemônico entre americanos e europeus. Na melhor das hipóteses, infelizmente.


Para aprender

Em absoluta discrepância com o que aqui havia sido previsto, os alemães passaram um baita sufoco para despachar os derradeiros representantes do continente negro. E ouso dizer, até, pelo que se viu em parte do segundo tempo e na prorrogação, até o gol alemão, que se não tivessem se abstido de pressionar para tentar jogar a sorte nos penais, poderiam ter tido melhor sorte. A prova é que, no desespero, no finalzinho do jogo, lançaram-se ao ataque e violaram a meta do gigante Neuer.   

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Nigéria x França

De todos os jogos que vi, o que mais me agradou: muito disputado, franco, lances de habilidade, tudo o que enche os olhos de quem gosta da brincadeira. Havia visto muito pouco de ambas as equipes, que se mostraram rápidas, insinuantes, técnicas. A Nigéria teve mais posse de bola, comandou as ações na maior parte da partida, mas foi vítima mais uma vez, daquela espécie de inexperiência que de muito já devia ter sido superada pelos africanos. É verdade que perderam muito após a saída do bom Onazi, vítima de falta criminosa que rendeu um complacente cartão amarelo, mas seu excelente goleiro Enyeama, por exemplo, falhou nos dois lances capitais que deram números ao placar em favor dos franceses. Estes, por sua vez, demonstraram habilidade acima da média de sua escola, precisão nos passes, muita movimentação. E valeram-se da camisa, na hora da onça beber água. Destaques para o volante Pogba, o nome do jogo, e o habilidoso atacante Benzema.


Se a Alemanha passar pela Argélia, como é de se esperar, teremos um grande clássico nas quartas, não só pela rivalidade e pelo peso das camisas, mas pelo que se viu do jogo das duas seleções, com estilos bem definidos e quase opostos. Se aprendi alguma mínima coisas nesses 37 anos de arquibancadas do que se passa entre as quatro linhas e muito além, os deuses do futebol darão aos gauleses, mais uma vez, o que merecem. Menos pelo crime contra Onazi, muito mais pela patética reação do estulto Griezman no segundo gol, que diz muito mais sobre a verdade desse time do que suas jogadas velozes e dribles hábeis. Vejam, anotem, confiram.

Plantão Dibrinho

Informa o enviado especial Gastão Forte para o Plantão Dibrinho:

Confirmando a proverbial falta de vocação para ganhar dinheiro do titular desta coluna, a Argélia foi mais time do que a (por ele) tão incensada Alemanha, criando pelo menos 4 oportunidades claras de gol, contra uma dos teutões.

Impondo uma marcação de contato que não deixa jogar os maestros Kroos e Schweinsteiger e abusando da velocidade em cima dos zagueiros alemães que não podem jogar em linha como têm feito, os argelinos roubam a bola no meio e põem os de frente pra correr, tendo ficado na cara do gol diversas vezes. Não fosse o ótimo goleiro-líbero Neuer, o chucrute já tinha azedado.

Para o segundo tempo, ou o técnico Loew desata esse nó, ou a tendência é a ansiedade germânica somar-se à superioridade física africana para deixar o jogo dramático. Coitado de quem não puder ver.”

Teoricamente

Na expectativa de Alemanha x Argélia, teoricamente a maior barbada dessas oitavas. Teoricamente, claro.

Mas eu não colocaria meu dinheiro nos africanos nem que o jogo fosse na Bahia. Até porque, sabedores de que há muito mais coisas entre as quatro linhas do que pode supor a International Board, os alemães trataram desde cedo de se aninhar bem ali, onde principiou essa barafunda deslumbrante e incerta a que chamaríamos Brasil. Se não para entender, ao menos para reverenciar os Caminhos tão fascinantemente cambiantes que construíram esta terra onde coisas espetaculares tendem a suceder.

Costa Rica x Grécia

As duas improváveis convidadas da festa das oitavas fizeram um jogo tecnicamente sofrível. A Grécia foi o que foi na primeira fase, classificada no apito, já indo tarde de volta às suas ilhas, seus azeites e suas filosofias. A Costa Rica aparentemente sentiu o peso da responsa, dos olhares todos a si voltados e da perda do ineditismo de seu jogo, fácil de sacar, até para um torcedor obtuso para as coisas táticas e quejandas como eu. Assim, bem marcados os fundamentais Ruiz (à exceção óbvia do lance do gol centro-americano, em que pintou livrinho na entrada da área) e Campbell, os costarricences (acho tão mais bonito...) não conseguiram repetir as boas atuações da primeira fase.


Ao fim e ao cabo, a classificação foi merecidíssima, premiando não somente a boa surpresa do futebol que trouxeram para o Brasil, mas também o carisma e a simpatia tão latinos de sua alegre torcida. Não obstante, cumpriram já o seu papel. Não bastasse todo o mais, o inacreditável desgaste do time que teve de jogar 120 minutos com um jogador a menos desde os 20 do segundo tempo, não exatamente os favorecerá contra os temíveis laranjas. Torço de todo o coração por uma despedida honrosa.  

México x Holanda

Os laranjas superaram o México na camisa, depois de estarem perdendo até os 42 do segundo tempo. Os que me conhecem sabem de longo o que isso a mim cheira... É claro que os bravos mexicanos recuaram demais e chamaram a onça pra fora da toca. Talvez se tivessem jogado mais o seu jogo... Mas como o talvez, contundido, está mais uma vez fora da Copa e do futebol, prevaleceu a frieza holandesa e a letalidade de seus atacantes, indiscutivelmente sua maior arma. Perde a Copa e o Brasil a presença mais alegre, mais interessante por aqui: a torcida mexicana. Ganham os amantes do futebol, sem dúvida.


Talvez a Holanda não ganhe o Mundial, mais uma vez. Talvez isso seja até provável. Mas de todos os grandes times batavos que eu vi em tantas Copas – e são muitos - , nunca o desenho sutil dos melismas futebolísticos, para além das quatro linhas até, insinuou brisas tão alaranjadas...

Brasil x Chile

As restrições orçamentárias desta coluna infelizmente não têm permitido que ela sirva para o que foi inventada: registrar os olhares de um torcedor comum – o que não é comentarista, nem técnico, nem idiota - sobre o desenrolar do mais fascinante campeonato esportivo do planeta. Que normalmente nascem, desabrocham e morrem na arquibancada ou no butiquim, seus lugares naturais. E digo isso só para que se registre o que durante toda a semana que antecedeu a peleja contra os chilenos apregoei aos quatro balcões: seria o mais duro jogo para o Brasil, do ponto de vista emocional, em muitas copas. E não deu outra. Eu, pelo menos, não lembro da última vez que nosso nível de apreensão chegasse a alturas tamanhas.

E isso, senhores, porque era o jogo da vida daquela seleção. Que não nasceu para ser o Brasil, ou a Argentina, fazer o quê? Nasceu para desempenhar um papel honroso, mas modesto, de força intermediária. Para tristeza dos andinos, a sorte (ou a falta dela) colocou a Seleção Brasileira em seu caminho por quatro vezes, o que não é nem um pouco comum. Só que dessa vez eles tiveram um time particularmente bem montado, com alguns bons valores individuais como Sanchez, Vidal, Medel, Mena, Diaz, Silva. E o Brasil, por sua vez, ainda não tinha encontrado – como, aliás, ainda não encontrou – o caminho de transformar a boa qualidade da atual safra de seus jogadores no futebol imponente e incontestável que bordou-lhe na camisa as cinco estrelas que ostenta no peito, lado oposto ao direito. Sabia La Roja, portanto, que nunca dantes - e não se sabe quando outra vez, agora - um cenário mais favorável. 

Preparei-me, então, para um jogo de vida ou morte. Mas qual não foi minha surpresa quando na metade do primeiro tempo dominávamos o jogo e o placar, a despeito de Neymar ter sido alijado da partida por uma “paulistinha” certeira, no melhor estilo dos nossos queridos rivais andinos. Talvez o tênue relaxamento que me passou no coração após o gol tenha sido o mesmo que tomou conta do Escrete. Num lance infantil, tomamos o empate: falha técnica do limitado Hulk, que fazia sua melhor partida nesta Copa; bobeira imperdoável de um simpático mas perigosamente irregular David Luiz, que alterna grandes lances, tanto no desarme como quando vai à frente, com falhas que se tornam naturalmente mais comprometedoras quanto mais o certame vai se afunilando.

E daí para frente não houve paz para o coração brasileiro. Acertado no intervalo, o Chile veio para o segundo tempo melhor, jogando o futebol que mostrou na primeira fase, e não no primeiro tempo. E o Brasil sem Neymar, sem armação, sem nosso grande Fred sacado precipitadamente por Dom Felipe, segurou-se como foi possível. E foi o que foi com direito a bola chilena no travessão aos 14 do segundo tempo da prorrogação. Repito, para os que encontrarem este papiro numa gruta daqui dois mil anos: bola no travessão aos 14 do segundo tempo da prorrogação... E ao fim e ao cabo prevaleceu a estrela do dedicado Júlio César, o Nosso Júlio César, que resgatou a dívida que lhe tirava a paz de espírito desde 2010. E a nossa. Melhor para o Brasil! Que siga, aliviado, realizando o bom Mundial que até agora tem feito. Axé!

E diferentemente dos detratores de plantão, imortais, invencíveis, ganhemos nós todas as copas daqui até o apocalipse, acho que, como meu coração, o Escrete saiu fortalecido desse jogo. Passamos pelo pior, sobrevivemos. O que vier, daqui pra frente, será dentro das quatro linhas. Bola. E bola nós temos. Como têm Alemanha, Argentina, França, Holanda e mesmo esta boa Colômbia 2014. Na bola será disputada essa Copa. Alvíssaras!


Sigo com fé em que aquilo que ainda continua faltando dará o ar da graça, no momento exato, na hora em que mais precisarmos. Nosso jogo está ali, nos pés dessa geração que pode não ser excepcional, mas é muito boa. O jogo está ali, eu quase o vejo. Que venha o efó, o (des)encantamento, a aletheia, o desvelamento. Que assim seja. Axé.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Balanço IV - o melhor e o pior das paralelas


Do apartamento, oitavo andar, abro a vidraça e grito quando o carro passa:

O melhor: as invasões das torcidas sul-americanas; a delícia que se sente nas ruas, nas arquibancadas, nas transmissões: a festa, a grande festa em nossa casa -  com a nossa competência, com os nossos problemas.

O pior, de muito longe: as transmissões. Senão, vejamos:

Narradores - Desde que Galvão Bueno consagrou e enriqueceu com um novo estilo de narração, que não comporta um minuto de silêncio, não importa que bobagem você fale, não se narra mais o jogo. Não se diz mais o nome dos jogadores, tarefa básica. E com o delay pronunciado das transmissões televisivas digitais, nem o rádio se pode usar.

Os comentaristas - uma dureza a invasão de ex-jogadores, muito deles bem medianos dentro das quatro linhas, deitarem sabedorias pelos microfones com chapéu alheio. Edmundo fala em fair play. Casagrande e Mário Sérgio em exemplo fora dos gramados.  Ronaldo reclama coerência. E por aí vamos. Não que os jornalistas que cederam seus lugares para os boleiros fossem na média muito diferentes, mas um Cáudio Zaidan, um Carsughi, um Trajano valiam e valem a malta de flávios prados e quejandos. Salva-se honrosamente o grande Leovegildo Júnior, craque  ontem e hoje, falando pouco e acertando muito.


Arbitragem - filhos diletos do moralismo que assola o mundo e do legalismo, seu principal subproduto, os comentaristas de arbitragem foram inventados para avaliar as atitudes que os homens de preto tem que tomar em frações de segundos, ao vivo, depois de ver a repetição do lance em câmera lenta dez ou quinze vezes. E para explicar as 17 regras cuja clareza meridiana é em grande parte responsável pelo futebol ser o sucesso universal que é. Não bastasse, chega a ser ofensivo ter que tolerar árbitros que foram desastrosos dentro das quatro linhas como os proverbiais Márcio Rezende de Freitas, o conhecido Senhor 95,  e o arqui-parcial Paulo César Oliveira investidos de uma autoridade moral em que nem suas tão ofendidas genitoras conseguem acreditar. Triste, se não fosse patético.

Balanço III - Mentindo com números

Das muitas estatísticas possíveis, e normalmente inúteis, uma particularmente eu gosto. E a FIFA, aparentemente, faz questão de ignorar.  Comparemos a proporção de vagas conquistadas pelas seleções  por  zona das eliminatórias em relação ao total, com a proporção de classificados para a segunda fase:

América do Sul - 6 seleções iniciaram (18,75%) - 5 classificaram (31,25%) = + 66 %

África - 5 iniciaram (15,62%) - 2 classificaram (12,5%) = - 20 %

Ásia/Austrália - 4 iniciaram (12,75%) - nenhuma classificou = - 100 %

CONCACAF - 4 iniciaram (12,5%) - 3 classificaram (18,75%) =  + 50 %

Europa - 13 iniciaram (40,62%) - 6 classificaram (37,5%) = - 7,6 %

Obviamente, muitas ponderações podem e devem ser feitas na interpretação. A começar pela conquista da vaga pela Grécia em detrimento de Costa do Marfim, no que talvez seja o mais crasso erro de arbitragem desde o título conquistado no apito pelo English Team em 66. Porém, considerado o desempenho de europeus e asiáticos, onde se concentra largamente o poder econômico no futebol e boa parte do poder político da entidade/empresa que o monopoliza, muitas divagações são possíveis.

O que não é divagação e impossível não encarar é, mais uma vez, a impressionante hegemonia sul-americana, a que já me referi quatro anos atrás. Aliás, o que se disse também alhures, cabe perfeitamente cá, somados ainda os latino-americaníssimos México e Costa Rica, a melhor da Copa.


Portanto, meus amigos: ganhe quem ganhar, haja o que hajar, essa Copa já tem um grande vencedor. E somos nós. Ou melhor, nosotros. Dentro e fora das quatro linhas, aliás, e pelos séculos dos séculos. Amém.

Balanço II - o jogo

Olha, acho que quem gosta de tática é general. Ou enxadrista. Eu gosto é do jogo jogado. Gosto de ver consistência, as jogadas sendo gestadas por um modo de se posicionar, de uma atitude perante o jogo, da competência em se executar  o que se acredita ser o melhor, ou o possível. Porque se os gols saem só de conjugações entre habilidade e oportunidade, perde-se um bom naco de sabor.

Muito bem. O que me parece evidente, até agora nesse Mundial, é que os grandes armadores estão em extinção. E, consequentemente, um modo de jogar que dependia fundamentalmente deles, da função que exercem no jogo. A Espanha, que detém os últimos típicos e muito bons, foi o que foi. Messi, Neymar, Sanchez, Özil, são na verdade meia-atacantes, pontas de lança. Sneider, Kroos e Pirlo são segundos-volantes. Gostei de Ruiz, da Costa Rica, mas que também joga um tantinho mais atrás. Graças às intervenções do nosso repórter especial Torres Pondêncio, vi hoje Jones, dos EUA, que tem estilo, mas esteve em jornada  um tanto desastrada.

Não sei se consigo propor uma interpretação para isso ainda. Sei que os times estão dando os seus jeitos, encontrando seus modos. Do que vi, gosto da Alemanha, com seus zagueiraços em linha, volantes inteligentes, meias atacantes que se movimentam incessantemente. Costa Rica e Chile também mostraram um padrão interessante. Holanda joga em velocidade, aproveitando a força física e precisão de seus atacantes, com um volante que atua taticamente, ora desarmando, ora encostando nos de frente.


E temos nós. Que também não temos armador, mas jogamos como se ainda tivéssemos; não sei se apostando em que o bom Oscar ainda possa sê-lo, não sei se por limitações do nosso bom comandante. Talvez a Azzurra tenha padecido de semelhante mal. Eles, feliz ou infelizmente, não tiveram tempo de desviar a rota.

Balanço I - destaques

Não vou dessa vez arriscar uma seleção dessa primeira fase só pelo que assisti. Até porque não  vi, ou vi porcamente, Bélgica e França. E porque gostei muito mais dos atacantes do que de meias e defensores. Meus destaques:  Ochoa, do México; Neuer, Kroos e Müller da Alemanha (mas podia botar aí Höwedes, Khedira e Özil, fácil, fácil); Luiz Gustavo e Neymar, nossos; Sneider,  Robben, Van Persie, laranjas; Mena e Sanchez, chilenos,  Ruiz e Campbell, da Costa Rica e Suárez, do Uruguai, apesar dos dentes afiados. E Messi, que ainda está jogando para o gasto, e já fazendo a diferença.

Moralismo

Mais em voga que o 4-3-3, o 4-4-2, o W-M, ou 4-3-2-1-fogo; mais disseminado ideologicamente que o gerencialismo, o ambientalismo, ou o Consenso de Washington; mais unânime que o Galvão Bueno, o Papa Francisco e outro Francisco (o de Hollanda), o moralismo domina absoluta e desesperadamente todas as esferas da vida moderna. Em Tupinicópolis, então...

Mas nessa Copa está difícil. É um tal de elogiar a postura de um, esculhambar o comportamento de outro, estabelecer regras de etiqueta pra lá, fazer hierarquias de virtudes e defeitos pra cá... Com a maior naturalidade tascam julgamentos cuja taxatividade ruborizariam o próprio Maniqueu.

Quando se trata de nós, a coisa piora. Depois do pênalti em Fred no primeiro jogo, que ensejou cenas de auto-açoitamento penitente em praça pública, como a implorar a comiseração do planeta pela nossa decrepitude moral, o scratch do Santo Ofício Platinado, liderado por Arnaldo César Coelho na Cartola, passou mais de meio jogo tentando jurar de pés juntos perante Deus e a Santa Madre que o tento marcado pelo mesmo incansável e invencível  Fred seria "gol legal, pra usar o bordão manjado. Como se isso fizesse alguma diferença. Como se a Inglaterra fosse menos campeã em 66 ou menos eliminada 20 anos mais tarde.

Onde cabe, meu Deus, tanta obtusidade? Pois não se trata de um jogo? Ludus, não? E o imponderável, o extra-campo, a catimba, a mandinga, o bastidor, o detalhe, o logro, o embuste, o erro, a falha, não são de sua essência mais profunda? De sua estética, até? Como pode o ser humano levar-se tão a sério uma obrazinha banal de seu espírito? Se Aquele sem o qual nada se faz, tudo faz pelo jogo eterno e intercambiante do sim e do não?

Desde que não se morda ninguém, claro. Ou, pelo menos, que não se deixe apanhar com a boca na botija.

Uma não-impressão

Um dos mais falsos dilemas da história do futebol  é o que opõe pragmatismo e espetáculo. Há muito mais coisas entre uma linha de fundo e outra do que supõe a esquerda do século passado. Não sou daqueles, pois, que clama pela vitória como resgate das relíquias da cruz; mas acho também que quem quer espetáculo vai ao Teatro Municipal e não à arquibancada.

Não acho, como Walter Casagrande Jr., o poeta, que o problema da seleção seja falta de arte.  O time não é truculento, não é retrancadoi, não é excessivamente pragmático. E andei escrevendo por aí, também, que a esse time não falta garra nem vontade - pelo contrário. Também discordo dos que, a essa altura do campeonato, parecem querer antecipar uma desculpa para algo que não ousarei nomear, alardeando que o time seria fraco. O time não é fraco. Pelo menos não é em tese mais fraco que o de 2002, nem que o de 1994, só pra ficar nos exemplos mais óbvios. Nem é mais fraco que a Argentina 2014, para os que preferem, embora qualquer coisa possa acontecer.


Resumindo: não acho nada. Este texto é, portanto, completamente dispensável. 

P.S. Como pedido de desculpa pra quem perdeu seu tempo chegando até aqui, diria só que acho que possa faltar algo difícil de nomear, uma liga, um encantamento, um aufhebung. Além de um meia que jogue, claro. Ou não.

Fatos e argumentos

Só há disso tudo um fato: o único meio-tempo em que o jogo de Oscar existiu foi na segunda etapa contra a Croácia, com a entrada de Hernane. O que isso  exatamente quer dizer, de verdade, não sei.

Brasil x Camarões

Passamos. O primeiro tempo foi o que sempre tem sido, com direito a muito palpite dos entendidíssimos de plantão. O segundo tempo, contrariamente, quiseram pintar como o desatamento de todos os nós. Mas não foi nada disso.

A entrada de Fernandinho Muito-prazer no lugar de Paulinho Olha-a-cara-dele obviamente encurtou distâncias, diminuiu espaços. Mas não solucionou nossa angústia existencial não nominada, também conhecida como "não tem um miserável meia-armador que jogue". O que talvez não seja grande problema para a Holanda, com atacantes velocíssimos e mortais, pra Alemanha em que os de frente buscam jogo toda hora e tem os lançamentos magistrais de Kroos e  o talento de um incansável Oezil. Será para a Argentina, se dia desses Messi resolver vomitar mais e jogar menos, contrariamente ao que tem feito. E pra nós que temos lá na frente o glorioso Fred Mais-isolado-que-frango-de-ebó, se Neymar esquecer a macaca no vestiário.

Mas Camarões deixa jogar, como tinha observado lá na estréia contra o México, e deixou Neymar jogar.  Luis Rádio Nacional Gustavo bem mais uma vez, embora tenha falhado bisonhamente num lance que, em outras situações... Os dois melhores do time até aqui, junto com Tiago Silva. De resto, Hulk taticamente bem, esforçado, forte fisicamente, mas muito limitado tecnicamente. Não sei, sinceramente, se vale o preço. E David Luiz, que tem crescido a cada jogo.

Que venha o Chile.  


Itália x Costa Rica - ao vivo!!!

Jogaço, coberto ao vivo por nosso correspondente em Recife. Além da delícia toda de cores, sotaques, torcidas, dialetos, cantos etc., viu-se o jogo como nunca seria possível pela telinha. Espetáculo de local para se ver futebol. Quando o futebol há - e muito -, então...

E o que eu vi foi uma Itália valente, mas pouco criativa, dependente demais de Balotelli, que fica a maior parte do tempo mais  isolado que submarino boliviano. Pirlo trata a redonda com carinho, mas joga como um segundo volante, não é o homem para fazer a aproximação fatal ao ataque. Por outro lado, uma Costa Rica consistente demais, talvez como nenhuma outra equipe nesse Mundial. Campbell é um avante insinuante, mas que busca jogo a todo momento, muito bem servido por Ruiz, que aparece pouco pra torcida, mas foi fundamental para o time.

De ver a sequência dos centro-americanos, que foram bafejados por um dos maiores não pênaltis da história do futebol, que colocou a Grécia em seu caminho, em detrimento da Costa do Marfim, que merecia mais, assim como todos nós. A Grécia, só a Costa Rica merece.


Satisfação

Esta coluna ficou uma semana sem atualização. Poderia alegar motivos extra-Copa, mas os motivos foram totalmente intra-Copa. A uma, que nosso correspondente foi enviado, pela primeira e possivelmente única vez na vida para uma cobertura ao vivo. Como ele é também editor, redator, produtor, roteirista, motorista e chefe do RH...


A duas que, já que se estava lá, precisava-se ver também um pouco do Brasil, do São João, da feira, de um céu de tantas mais estrelas, de tantas outras também aqui da terra, que iluminam nossas noites frias qual balão enfunado... Aos que indagarem qual, diabos, é a relação disso com a Copa, recomendo que abandonem por aqui a leitura destas inúteis.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Adios

E a Fúria, confirmando  sua larga tradição de fiascos em Copas, interrompida pelo merecidíssimo título de 2010, repetiu a França 2002 e a Itália do último  mundial. As explicações, agora, poderão enveredar por muitas direções, da estatística à metafísica. Não me arriscarei. Só direi, meus caros, que o futebol tem mesmo dessas coisas. E por isso é o que é.


Pelo que vi do primeiro tempo contra a Holanda e porcamente do segundo contra o bravo Chile - para não falar, claro, do que se viu nos últimos seis anos, pelo menos - perde a Copa. Não lamentarei porque, friamente, é um campeão do mundo a menos no nosso caminho. E só.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Brasil x México

Sinceramente, não entendi Dom Felipão ontem. A opção pela entrada de Ramires no lugar do lesionado Hulk, teoricamente poderia ser uma tentativa de ocupar o famoso espaço no meio, aliviando Paulinho e Oscar, como bem analisou Kuk A. Chirmannoff, o correspondente russo desta página em Ribeirão Pires. Mas não. Ramires foi jogar lá na frente, e Oscar começou o jogo como um insólito ponta esquerda, mais isolado que pinguim em Copacabana. Depois eles inverteram, e não adiantou grande coisa.

No segundo tempo, constatada a ineficiência de Ramires, em vez de procurar ocupar o buraco do Ademar da nossa meia-cancha, meteu Bernard para somar-se ao time dos insulares. Depois tirou Fred por Jô, e o que se viu foi um desesperador festival de chuveirinhos na área. A entrada de William nem consigo avaliar, tamanha era a desfiguração tática do Escrete. Não nos deixemos iludir pelas três ou quatro grandes defesas do arqueiro mexicano, o nome do jogo, quase todas frutos de jogadas esporádicas. Nossa sorte é que o México veio pra não jogar, empatar ou perder de pouco. Esperemos que o argumento seja “experimentamos, enquanto podíamos”.

Destaques positivos: Julio César, que fez boas defesas e foi em todas as bolas; Tiago Silva, soberano, o melhor brasileiro; Luis “Cabaré na Lapa” Gustavo, incansável, preciso. Com boa vontade, poderíamos dizer que Neymar tentou fazer a parte dele. Mas certamente precisaremos de mais concentração, mais obstinação, mais sangue nos olhos do nosso maior craque.


Fato é que daqui pra frente não haverá mais espaço para improviso. O próximo jogo vale vaga e colocação na chave. E depois é matar ou morrer.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Pausa no futebol, que o assunto é... Moda!

O Capitão Ken (da Barbie) não viu, mais uma vez, a cor da bola em uma partida de Copa do Mundo. Dizer que não fez absolutamente nada seria injusto: reclamou o tempo todo e tentou expulsar o juiz. Custaria muito crer que isso pudesse se explicar por uma declaração que ouvi de sua própria boca, dias atrás, num português assim, diria, meio esquisito: “Não vou colocar em risco a minha condição física e a minha carreira... Sei que minha carreira vai durar mais alguns anos e não vou colocá-la em risco por causa de um jogo ou de um torneio”. 

Então...

Alemanha x Portugal

Senhores, não gostei nada, nada do que vi. Isso porque sou um torcedor da cabeça aos pés. Fosse eu um entusiasta do futebol, acima das rivalidades bobas, estaria sorrindo de orelha a orelha. Porque o que a seleção alemã fez nesse jogo não foi brincadeira. No cômputo geral impressionou-me muito mais que a própria Holanda, que foi dominada pelo meio-campo espanhol no primeiro tempo. Explico.

Pra começar, TODOS os jogadores alemães jogaram bem! Do goleiro aos reservas que entraram! A linha de zaga mais postada atrás (só Howedes descia com mais liberdade pela esquerda) neutralizou completamente o ataque luso. O meio-campo soberano, com o sóbrio e eficiente Khedira e um xou de bola do tal Kroos, para mim o melhor em campo, presente em todas as jogadas, cadenciador, lançamentos absolutamente perfeitos! Um autêntico Gerson teutônico! Do meio pre frente, o futebol envolvente de Özil (ainda que não nos seus dias de lampejos geniais), que caiu mais pela esquerda, mais a constante movimentação de Müller e Götzel, baratinaram completamente a marcação da defesa portuguesa. O resultado foi o que vimos. Isso porque, diferentemente da Laranja, os germânicos tiraram o pé no segundo tempo e só administraram. Tudo parece treinado, pensado, calculado, sem perder o viço, o frecor. Vai dar MUUUUITO trabalho esse time.

Já Portugal... Atropelado. Nem dá pra dizer muita coisa. Salvaria o meio campista Nani, voluntarioso, e o atacante Eder, que entrou numa grande fria e tentou brigar sozinho ali na frente. Terão muita dor de cabeça pela frente nossos irmãozinhos, sem o estapafúrdio Pepe, bisonhamente expulso, e possivelmente Hugo Almeida e Coentrão, lesionados. Fora a ressaca...


domingo, 15 de junho de 2014

Argentina x Bósnia

Um jogo bem abaixo da média da Copa até agora. Primeiro tempo pra lá de sonolento, com vocação de zero-a-zero clássico, não fosse o gol-contra caído do céu. A Bósnia é aplicada, voluntariosa, mas tecnicamente limitada. À Argentina faltou criatividade e, ousaria dizer, um pouco mais de vontade. O tal Di Maria foi o exemplo maior. No segundo tempo, a entrada de Higuain confundiu a marcação por zona e aí Messi teve liberdade pra se soltar, até marcar seu belo gol. Mas acho que se fosse o Brasil a jogar essa meia-bolinha na estreia e a nossa torcida maníaco-depressiva já estava de cornetas em punhíssimo.

Acho que compreendi melhor aquilo que senti nas ruas de Buenos Aires recentemente. Parece que falta um certo carisma a essa seleção. Não se viu a velha catimba, o sangue nos olhos proverbial. Isso obviamente não quer dizer que eles não possam ganhar esta e as próximas vinte e duas copas, que Messi não possa marcar 1.282 gols. E, de toda forma, está cedo pra uma impressão mais consolidada.

As paralelas dos pneus na água das ruas: o espetáculo  à parte que é a torcida argentina, tão, mas tão diferente da nossa...

sábado, 14 de junho de 2014

As imagens são dramáticas

Segundo dia de Mundial, desenham-se já dramas terríveis. E nós estamos ou estaremos, provavelmente, entre os seus protagonistas.

Com a vitória do Chile sobre a Austrália, que podia ter sido ate maior, a Fúria campeã fica em delicada situação. Ou repete a França de 2002 e dança na primeira fase, ou se classificará dramaticamente e virá, mordida e humilhada para tentar se reabilitar nas oitavas.

Pra nós será isso. Ou dar de cara com Van Persie, Robben & Cia. Ltda. Está bom para vocês?

Com licença do Belchior...


...As paralelas ao chocolate: 1) as vaias, apupos e xingamentos acachapantes da torcida na Bahia ao tal Diego Costa em TODAS as vezes que pegou ou pensou em pegar na bola, inclusive depois que saiu de campo! Resultado: não jogou N-A-D-A! E ainda conseguiu jogar a torcida contra seu time ao meter uma cabeçada ridícula no zagueiro flamengo; 2) a Fonte Nova, que das tais "arenas" que vi até agora, a que mais ainda tem cara de estádio. Apesar dos pesares.

Sexta-feira 13......

...Noite de lua cheia. Reza uma antiga lenda castelhana que nessas noites, em terras distantes, do outro lado do mar, coisas inacreditáveis sucediam...

Espanha x Holanda

O futebol é realmente algo inacreditável...

Um primeiro tempaço, equilibrado.
. Mais para Espanha, cujo meio-campo jogou muita bola, principalmente o maestro Xavi e o ótimo Iniesta. Não fosse a pouquíssima inspiração da dupla de atacantes, que ficaram na cara do gol algumas vezes, a Fúria poderia ter consolidado uma bela vantagem. A Holanda acabou empatando no final, com um golaço de  Van Persie, arrematando surpreendentemente de cabeça um lançamento precioso de 40 jardas.

No segundo, o que faltou em eficiência para os atacantes espanhóis, sobrou aos excelentes holandeses que viraram logo no começo. Mas bota sobrar nisso! O técnico espanhol, percebendo a letargia de seus avantes, bem que tentou colocar Pedro e Torres, mas tomou o terceiro gol em seguida. Aí abriu-se a porteira. Com falhas bisonhas do time campeão do mundo e uma imensa superioridade física dos laranjas, construiu-se a goleada com ataques letais. E dava pra ter sido mais, acreditem.

México x Camarões

Pelo que vi, mais do primeiro tempo, um bom jogo. Vitória justa do México, que é um time superior, jogou melhor e teve gols anulados erroneamente.

Camarões não tem o futebol vistoso que já nos encantou em outras oportunidades. Joga compacto, marca bem, mas deixa jogar. Depende muito da inspiração de uns poucos jogadores: além do conhecido Eto'O, que é melhor que o Obina, gostei do ala Ekoto e o meia Mbia. Pelo menos, creio que não teremos a pancadaria que enfrentamos em 2010 contra a também africana Costa do Marfim.

O México toca bem a bola e é envolvente na saída rápida em contra-ataque. Mesmo não tendo mostrado letalidade no ataque correspondente ao seu volume de jogo, mostrou-se um time perigoso. Mormente porque poderá, agora, com esta primeira vitória, jogar contra o Brasil só na espera, guardando no bolso do colete a possibilidade de decidir a vaga no último jogo, contra a Croácia.

Se Dom Felipão não acertar o problema de posicionamento da nossa linha média, podem preparar o Isordil, que teremos fortes emoções


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Dormindo com o inimigo

Passada a estréia e as incertezas todas que a cercaram, despertamos para a realidade sempre dura: nossos piores inimigos estão aqui, dentro da nossa casa. E não me refiro à Argentina, Alemanha, Itália ou Espanha, hospedadas nos rincões Brasil a fora. Falo da crônica esportiva bossal e dos detratores do Brasil. Uns e outros, velhíssimos conhecidos. Nem há porque se perder muito tempo.

Para quem não eventualmente não tivesse visto o jogo e só pousasse no planeta terra a tempo de ligar nos programas esportivos pós-partida, teria a certeza de que levamos um vareio de bola e ganhamos por exclusiva interferência dos erros de arbitragem. Tivesse o pênalti habilmente cavado por Fred sido obra da simulação de um Messi, por exemplo, seria aclamado como gênio absoluto da picardia, que todo o craque tem que ter. Como foi o nosso bom camisa 9, que nem na Europa joga... É a mesma lógica: gol de mão de Maradona: gênio! Se o gol de mão fosse de Neymar: só ganhamos ajudados pela arbitragem... 


Agradeço aos Deuses todos o Escrete não ter sobrado, nem ter dado espetáculo. Foi a sobra pra cima dos adversários que forjou a tragédia de 50 – toc, toc, toc – junto com as propensões bipolares de nossa torcida e a babquice da crônica. 

Sigamos assim. Axé!

Estreiamos

Ave Maria... Dureza de jogo, corações apertados, uma pequena guerra, como sói em Copas do Mundo. Mas passamos. Superamos uma enormidade de dificuldades – estréia, casa, incertezas em relação ao apoio da torcida, sair em desvantagem, gol contra e, acima de tudo, um adversário europeu, forte e bem postado - e conseguimos nos valer do que temos de melhor: um time jovem, voluntarioso, bem comandadao, alguns poucos jogadores que podem desequilibrar. Parabéns ao Escrete!

Destacaria pelo lado positivo, além dessa capacidade de superação, dois pontos. Primeiro, que os dois jogadores mais contestados do time jogaram bem e foram decisivos: Oscar e Julio César. Segundo: Neymar, chamado a fazer a diferença, fez. Isso é um patrimônio que vamos saber acumular. Individualmente, ainda, Luis Gustavo foi irreparável.

O sinal amarelo eu acenderia para algo no posicionamento de marcação do time, que, pela TV, não consegui identificar exatamente o que seja. Mas entendi agora o siricutico de Felipão durante a preparação: falta algo na ocupação dos espaços no meio-campo, em comparação ao que jogamos na Copa das Confederações. E ele está de olho. Às escâncaras melhorou quando da entrada de Hernane, o que refletiu no nosso melhor desempenho no segundo tempo. Mas não consigo atribuir a uma má atuação de Paulinho, por exemplo. De toda sorte, impende que nosso comandante resolva isso.

Olho agora em México e Camarões, daqui a pouquinho. O resultado influnciará diretamente na postura mais aberta ou mais defensiva dos mexicanos na terça-feira.  

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Brasil x Sérvia

Jogo duro, pra valer. Os sérvios não negaram a tradição e trouxeram sua caixinha de ferramentas devidamente fornida e reiteradamente acionada. Ao menos, ao que parece, não tivemos maiores baixas. Achei o teste muito válido. Retranca igual ou menor do que vamos pegar pela frente. E sabem criar. Afortunadamente não finalizam tão bem quanto batem, marcam e armam o jogo. 

A nota do jogo, preocupante, foi a quantidade de falhas da nossa defesa, tanto de posicionamento, quanto individuais. TODOS os nossos defensores, de Julio Céar a Marcelo, tiveram falhas individuais potencialmente comprometedoras. As preocupações são maiores justamente porque esse era um setor em que teoricamente teríamos tranquilidade. Minha teoria é que falta um zagueiro mais malvado ali, um xerife: os nossos beques são simpáticos demais. Mas à exceção de Maicon, que tem cara de zagueiro, parece que não temos opções para essa função, digamos, estratégica. Agora, como Felipão é mestre na matéria, vamos dar um crédito.

De resto, sem novidades. Nossos volantes discretos, como deve ser. Oscar apagado, Hulk mais presente, mas pouco eficiente. Gostei de Neymar, mais uma vez, porque não se escondeu do jogo. Assim será, jogando melhor um dia, pior no outro, sendo muito marcado e cassado. Há que se dar confiança e liberdade a ele. Só carregar menos a bola, que, como se viu, não adianta muito.

E quando as coisas apertarem, estará lá – confio e espero! - o nosso Fred. A quem eu defendo com unhas e dentes, agora e sempre. Amém!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Esquentando os tamborins

Pois vi terça-feira o segundo tempo de Brasil x Panamá. De bonito, em primeiro lugar, o grande Serra Dourada, que já foi casa quase “oficial” da Seleção; o último do país, segundo consta, a conservar as dimensões máximas do gramado permitidas pela regra. Outra coisa...

Em segundo, o futebol de Neymar. Que tem bola, ninguém discute. Mas que costumeiramente cresce em campo na proporção inversa da importância do jogo. Diante do Panamá, foi o monstro que sabemos que pode ser. Que incorpore a “fera acuada” de outro notablíssimo camisa 10, e não tem pra ninguém.

Gostei muito do William, que sinceramente pouquíssimo conheço. Bela movimentação, atrevido, arisco. Se fôssemos tomar pela atuação dos nossos avantes Jô e Fred (de quem sou defensor ferrenho, por motivos que outra hora posso desenvolver), ousaria dizer que podemos ter em muitos momentos do Mundial um ataque sem camisas 9 típicos. Da última vez que um certo Zagallo resolveu teimar nessa possibilidade... 

Hoje tem mais. E o buraco é mais embaixo. De ver. 

De volta. E no Brasil!

Pois é. Copa na área, Dibrinho de volta. Que é brincadeira de garoto que gosta da bola. Que é futebol moleque, sem objetivo outro que não a diversão coletiva, quem marca vai para o gol.

Porque agora é bola rolando. E, por tabela, rolando também o papo furado, o palpite, o xingamento, o assovio, a chamada de mais uma, a virada de cabeça pra apreciar a beleza passante. Quem for do pedaço, que chegue. Quem não for...