segunda-feira, 30 de junho de 2014

Brasil x Chile

As restrições orçamentárias desta coluna infelizmente não têm permitido que ela sirva para o que foi inventada: registrar os olhares de um torcedor comum – o que não é comentarista, nem técnico, nem idiota - sobre o desenrolar do mais fascinante campeonato esportivo do planeta. Que normalmente nascem, desabrocham e morrem na arquibancada ou no butiquim, seus lugares naturais. E digo isso só para que se registre o que durante toda a semana que antecedeu a peleja contra os chilenos apregoei aos quatro balcões: seria o mais duro jogo para o Brasil, do ponto de vista emocional, em muitas copas. E não deu outra. Eu, pelo menos, não lembro da última vez que nosso nível de apreensão chegasse a alturas tamanhas.

E isso, senhores, porque era o jogo da vida daquela seleção. Que não nasceu para ser o Brasil, ou a Argentina, fazer o quê? Nasceu para desempenhar um papel honroso, mas modesto, de força intermediária. Para tristeza dos andinos, a sorte (ou a falta dela) colocou a Seleção Brasileira em seu caminho por quatro vezes, o que não é nem um pouco comum. Só que dessa vez eles tiveram um time particularmente bem montado, com alguns bons valores individuais como Sanchez, Vidal, Medel, Mena, Diaz, Silva. E o Brasil, por sua vez, ainda não tinha encontrado – como, aliás, ainda não encontrou – o caminho de transformar a boa qualidade da atual safra de seus jogadores no futebol imponente e incontestável que bordou-lhe na camisa as cinco estrelas que ostenta no peito, lado oposto ao direito. Sabia La Roja, portanto, que nunca dantes - e não se sabe quando outra vez, agora - um cenário mais favorável. 

Preparei-me, então, para um jogo de vida ou morte. Mas qual não foi minha surpresa quando na metade do primeiro tempo dominávamos o jogo e o placar, a despeito de Neymar ter sido alijado da partida por uma “paulistinha” certeira, no melhor estilo dos nossos queridos rivais andinos. Talvez o tênue relaxamento que me passou no coração após o gol tenha sido o mesmo que tomou conta do Escrete. Num lance infantil, tomamos o empate: falha técnica do limitado Hulk, que fazia sua melhor partida nesta Copa; bobeira imperdoável de um simpático mas perigosamente irregular David Luiz, que alterna grandes lances, tanto no desarme como quando vai à frente, com falhas que se tornam naturalmente mais comprometedoras quanto mais o certame vai se afunilando.

E daí para frente não houve paz para o coração brasileiro. Acertado no intervalo, o Chile veio para o segundo tempo melhor, jogando o futebol que mostrou na primeira fase, e não no primeiro tempo. E o Brasil sem Neymar, sem armação, sem nosso grande Fred sacado precipitadamente por Dom Felipe, segurou-se como foi possível. E foi o que foi com direito a bola chilena no travessão aos 14 do segundo tempo da prorrogação. Repito, para os que encontrarem este papiro numa gruta daqui dois mil anos: bola no travessão aos 14 do segundo tempo da prorrogação... E ao fim e ao cabo prevaleceu a estrela do dedicado Júlio César, o Nosso Júlio César, que resgatou a dívida que lhe tirava a paz de espírito desde 2010. E a nossa. Melhor para o Brasil! Que siga, aliviado, realizando o bom Mundial que até agora tem feito. Axé!

E diferentemente dos detratores de plantão, imortais, invencíveis, ganhemos nós todas as copas daqui até o apocalipse, acho que, como meu coração, o Escrete saiu fortalecido desse jogo. Passamos pelo pior, sobrevivemos. O que vier, daqui pra frente, será dentro das quatro linhas. Bola. E bola nós temos. Como têm Alemanha, Argentina, França, Holanda e mesmo esta boa Colômbia 2014. Na bola será disputada essa Copa. Alvíssaras!


Sigo com fé em que aquilo que ainda continua faltando dará o ar da graça, no momento exato, na hora em que mais precisarmos. Nosso jogo está ali, nos pés dessa geração que pode não ser excepcional, mas é muito boa. O jogo está ali, eu quase o vejo. Que venha o efó, o (des)encantamento, a aletheia, o desvelamento. Que assim seja. Axé.

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