quinta-feira, 26 de junho de 2014

Moralismo

Mais em voga que o 4-3-3, o 4-4-2, o W-M, ou 4-3-2-1-fogo; mais disseminado ideologicamente que o gerencialismo, o ambientalismo, ou o Consenso de Washington; mais unânime que o Galvão Bueno, o Papa Francisco e outro Francisco (o de Hollanda), o moralismo domina absoluta e desesperadamente todas as esferas da vida moderna. Em Tupinicópolis, então...

Mas nessa Copa está difícil. É um tal de elogiar a postura de um, esculhambar o comportamento de outro, estabelecer regras de etiqueta pra lá, fazer hierarquias de virtudes e defeitos pra cá... Com a maior naturalidade tascam julgamentos cuja taxatividade ruborizariam o próprio Maniqueu.

Quando se trata de nós, a coisa piora. Depois do pênalti em Fred no primeiro jogo, que ensejou cenas de auto-açoitamento penitente em praça pública, como a implorar a comiseração do planeta pela nossa decrepitude moral, o scratch do Santo Ofício Platinado, liderado por Arnaldo César Coelho na Cartola, passou mais de meio jogo tentando jurar de pés juntos perante Deus e a Santa Madre que o tento marcado pelo mesmo incansável e invencível  Fred seria "gol legal, pra usar o bordão manjado. Como se isso fizesse alguma diferença. Como se a Inglaterra fosse menos campeã em 66 ou menos eliminada 20 anos mais tarde.

Onde cabe, meu Deus, tanta obtusidade? Pois não se trata de um jogo? Ludus, não? E o imponderável, o extra-campo, a catimba, a mandinga, o bastidor, o detalhe, o logro, o embuste, o erro, a falha, não são de sua essência mais profunda? De sua estética, até? Como pode o ser humano levar-se tão a sério uma obrazinha banal de seu espírito? Se Aquele sem o qual nada se faz, tudo faz pelo jogo eterno e intercambiante do sim e do não?

Desde que não se morda ninguém, claro. Ou, pelo menos, que não se deixe apanhar com a boca na botija.

2 comentários:

Douglas Germano disse...

Engraçado observar a reação da mesma crônica especializada após a cena de Robben contra o México. Principalmente depois do mea-culpa que o próprio carequinha fez.

Fernando Szegeri disse...

Exatamente. Aliás, conforme a minha antevisão do lance, como diria Silvio Luiz.