quarta-feira, 7 de julho de 2010

Penúltima: o palpite

Prometi, mas não cumpri. Já posso me canditar nas próximas eleições... Mas só mais essa, mesmo, antes da derradeira.

Na verdade, vou arriscar um palpite, coisa que dificilmente faço. Um palpite para a final.

Dentre as quatrocentos e trinta mil, duzentas e vinte e nove modalidades esportivas conhecidas, o futebol só é o que é porque, como na arte, encerra uma dose muito significativa do drama humano. E não só como representação. Enquanto drama real, o futebol envolve muito mais que habilidade, desportividade, capacidade física e técnica etc. etc. etc. A Copa do Mundo, por muitas razões, é o grande ápice do futebol e, por conseguinte, dessa carga dramática. Mais do que em qualquer outro momento, entram em cena, em sua disputa, altas doses de farsa, desespero, euforia, corrupção, desejo, velhacaria, religiosidade, canalhice, violência, erotismo, simulação, dissimulação, malandragem, mandinga, patifaria, vergonha, devoção, coragem, traição etc. etc. etc.

Penso, agora, nas decisões e nos campeões de muitas Copas. Andando para trás, penso na semi-final apoplética em que a Itália ganhou da Alemanha, e na cabeçada do gênio Zidane. Penso na ajuda da arbitragem para o Brasil diante da Bélgica. Na convulsão de Ronaldinho. Na encolhida da bunda de Romário e no pênalti chutado por Baggio. No gol de mão de Dom Diego. Na Itália desacreditada que não ganhou nenhuma na primeira fase, com Paolo Rossi & Cia. No Peru entregando o jogo para a ditadura. No gol inglês em que a bola não entrou. Em Garrincha que jogou a final, apesar de expulso contra o Chile. Em Ghiggia e Barboza. Só as vitórias alemãs parecem escapar dessa sina.

A trajetória holandesa nesta Copa é feita de atuações relativamente tranqüilas (mesmo nos momentos de maior aperto), lances de sorte, eficiência, gols fortuitos, e até uma certa displicência. A espanhola é feita de derrota na estréia, de sufoco contra Portugal, de sufoco contra o Paraguai (com direito a dois pênaltis perdidos, de lado a lado), de sufoco contra a Alemanha.

A não ser que os velhos deuses do futebol estejam, mui excepcionalmente, de folga nesse domingo, acredito que o destino do Caneco, pelos próximos quatro anos, esteja selado: repousar em terras de Aragão e Castela.

Afinal

Prometo que, mais uma postagenzinha só, para saudar o campeão, e voltarei ao meu silêncio obsequioso. "De onde eu nunca devia ter saído".

A Final

Teremos, enfim, mais um iniciado no seletíssimo círculo dos campeões mundiais. Achei que as duas seleções chegaram com justiça. Será o duelo da eficiência laranja, não muito vistosa, mas fatal, contra a exuberância do toque de bola espanhol, que não se tem traduzido em número de gols. Prognóstico dificílimo, promessa de um jogo histórico.

Espanha x Alemanha

Jogaço, aço, aço, aço, aço. A Fúria jogou muuuuuuuita bola e dominou completamente o eficiente meio-campo germânico. O trio de meias Xavi-Alonzo-Iniesta (este, especialmente, fez para mim, neste jogo, a maior atuação individual desta Copa) é de encher os olhos, um dos melhores que vi nos últimos muitos anos. A facilidade com que tocam e dominam a bola... Sergio Ramos é um baita lateral e o zagueiro Puyol fez a diferença, com raça e liderança, e aparecendo de surpresa no gol de bola parada. O jovem Pedro mostrou personalidade, habilidade e ousadia; se deixar de ser fanfarrão e firuleiro, será certamente um grande nome para 2014.

Uma palavra necessária sobre a Alemanha. Não vi o jogo contra a Inglaterra, frise-se. É claro que duas goleadas seguidas sobre dois campeões mundiais é de se respeitar. Mas o time da Argentina tem a pior defesa de sua história, uma condição física deplorável e padeceu de falta de técnico (no sentido forte e estrito da palavra), assim como o Brasil. De resto, uma boa vitória sobre ninguém na estréia, uma derrota para a medianíssima Sérvia, uma vitória magra sobre Gana, num jogo absolutamente parelho. No frigir dos ovos, falou-se mais que viu-se. O que eles tem mesmo é um belo time, sim, muito homogêneo, sem nenhum perna-de-pau, e com jogadores acima da média, como o zagueiro Friedrich, o volante Shweinsteigger, o meia Podolski e o excelente Özil. Darão trabalho em 2014.

Uruguai x Holanda

Os laranjas não jogaram o futebol vistoso que vinham apresentando, mas foi o suficiente para despachar a limitada (sempre disse isso) seleção celeste. (Diga-se de passagem, também não jogaram bem contra nós. Como já disse, nós perdemos para nós mesmos. Eles chutaram, fora os dois gols achados, uma bola só na nossa meta, quando o Brasil já estava de quatro.) Eficiência é a marca desse time, com dois jogadores que desquilibram, Stejner e Robben, e um xerifaço na defesa, o violento Heitinga.

Frise-se que o Uruguai caiu de pé, bravamente, superando suas limitações com a garra que consagrou o estilo cisplatino de jogar futebol, assim como a propalada violência, que também não faltou. Parabéns à nossa província rebelde.

Último pitaco

Júlio César foi, para o Brasil de 2010, o anti-Didi. Na final de 58, quando tomamos o primeiro gol antes dos 10 do primeiro tempo - e o complexo de vira-latas e demais fantasmas todos voltaram a rondar o Escrete - , o grande Didi, esse monstro da bola, esse mago, um mestre com a redonda nos pés, fez, com as mãos, a maior jogada de sua vida. Foi ao fundo da meta de Gilmar, pegou a bola e saiu caminhando, lentamente, com a criança no colo, conversando com cada um dos jogadores brasileiros, até depositá-la na marca central. O que disse, não sabemos. Mas a imagem é do tranqüilizador, do líder, daquele que chama a responsabilidade para si e chama os outros à tenência. E deu no que deu.

É claro que, ora direis, tanto hoje quanto ontem, as condições históricas já estavam dadas. Mas o fato é que, ajudado pelo bom Fábio Melo, uma espécie de Cerezo-82 (com 10% do talento daquele), o goleirão brasileiro passará para história como a imagem do desequilíbrio que contagiou fulminantemente todo o time. Mais ou menos como se derrubasse o vidro de pimenta enquanto preparava a canja do bebê. Canja que estava prontinha pra gente papar.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Uruguai

O time cisplatino mostrou toda sua capacidade de (não) fazer gols. Forlán não jogou nada, Fucile idem, o que significa que a Celeste não veio pro jogo. O grande herói da nação meridional foi, sem dúvida, Suárez, que espalmou o gol certo dos africanos. Está fora da Copa, por certo. Sacrificou-se pela pátria.

Agora, segurem los hermanos.

Pena capital

Defendo que um cidadão que perde um pênalti em Copa do Mundo, no último minuto do segundo tempo da prorrogação, deva ser executado sumariamente, em nome dos interesses superiores da nação.

Já era

Essa é minha nona Copa. Vi o Brasil ganhar duas e ser eliminado em sete. De todas, disparadamente, essa foi a bola mais cantada. Não que a derrota, especificamente, tivesse sido cantada, mas a forma como ela veio. Torcer, torcemos. Acreditar, acreditamos, até, em certos momentos. Relevar, relevamos: a empáfia, as arbitrariedades, o politicamente correto, a falta de carisma, de identificação etc. Mas nada disso importa, nem na derrota, nem na vitória.

Cantou-se a bola de que a Seleção não tinha banco; que na necessidade de se precisar substituir uma peça, ou de variar o esquema, na falta, por qualquer motivo, do armador (único) do time, ficaríamos a ver navios. Cantou-se a bola de que não tínhamos um técnico, na hora em que a gente precisasse realmente de alguém que entendesse o que estava acontecendo em campo, pra poder interferir. Dunga tem suas qualidades de líder, tem seu conhecimento dos meios da bola, mas isso é pouco para treinar um time de ponta, que se dirá a Seleção Brasileira. Cantou-se a bola de que alguns jogadores poderiam faltar na hora do pega pra capar.

A bola que ninguém cantou foi que o infalível, o melhor do mundo, o perfeito, o galã, o líder, o campeão Júlio César seria o jogador a enterrar o time. Ainda que tenha tido, reconheça-se, a hombridade de assumir a falha, ainda no calor do fim do jogo; ainda que tenha demonstrado, nesse mesmo momento (e mesmo ainda durante a partida), que realmente carregava no peito o peso, a honra e a responsabilidade do manto canarinho, o fato é que o time sentiu demais a queda de um esteio elevado à categoria de indestrutível. E nisso, a imprensinha safada, tacanha, vendida, baba-ovo, deslumbrada, tem a sua grande carga de responsabilidade. Impressionante perceber que o sr. Galvão, o bobo-da-corte mais bem pago do mundo, não CONSEGUIU dizer em NENHUM momento, que a falha no primeiro gol teria sido do nosso bom arqueiro. Por que não dizer? É proibido? Ele não pode falhar? Mas essa babação-geral faz mal pro time e faz mal pro próprio jogador. E isso, ninguém me tira da cabeça, só porque ele é jogador de um timinho tal, campeão de não sei que porra, que eu nem sei qual é, graças a Deus.

O interessante é que, desde 1990, fala-se muito do “ambiente” da Seleção, do “grupo”. Porque o “ambiente” era péssimo em 90. O “grupo” era desunido em 2006. O “grupo” trouxe o caneco em 2002 etc. etc. etc. Conversa pra boi dormir. Engraçado que, até 1986, ninguém nunca chegou pro Pelé, pro Didi, pro Gerson, pro Rivelino, nem pro Zico, nem pro Sócrates, pra perguntar se o grupo estava unido, se o ambiente era bom. Porque se jogava bola, simplesmente. Ninguém precisava ser amigo, nem desafeto de ninguém, pra justificar uma vitória ou uma derrota. Não jogamos nada em 66, nem em 74. Jogamos pra caralho em 58, 62 e 70. Ponto.

Júlio César, o símbolo maior da ruína do Escrete, deu entrevista na saída do jogo, frisando que o ambiente era maravilhoso, que o grupo estava unido. Viu-se. Tão unido, tão unido, que quando um jogador fraquejou, a espinha dorsal do time foi pra casa do chapéu. Não foi "o grupo" que não teve sucesso, nem "o ambiente" que não era propício. Só disso se tratou nesses anos-Dunga, de preservar o ambiente, de unir o grupo. Jogamos pouca bola, só isso. E nunca, NUNCA antes na história das participações brasileiras nas Copas, perdemos tanto para nossas próprias limitações.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Hegemonia e decadência

Todos as oitavas de final classificaram os times sul-americanos disputantes, à exceção óbvia de Brasil x Chile, onde um obrigatoriamente ficaria. Ou seja, dos oito restantes, temos 50% de times da América do Sul, proporção três vezes e meia maior do que no início do torneio.

Some-se à presença do futebol latino dos espanhóis e do africano dos ganenses, ao fim e ao cabo, esta Copa já a esta altura decreta uma derrota acachapante do estilo tradicional europeu de jogar. Até porque esta Alemanha não fica cruzando bolas altas na área; e a Holanda faz jus à escola particularíssima que fez sua fama.

Arriscando

Agora que só ficou o filé minhom, arrisco, pelo que vi (não pelo que falam) e pelo que entendo do futebol em uma Copa do Mundo (onde contam não somente os dribles e gols, mas a liderança, o espírito, a estrela), minha seleção da Copa até aqui: Eduardo (PORT), Ramos (ESP), Lúcio (BRA), Fucile (URU) e Coentrão (PORT); XAVI (ESP), Forlán (URU), Beaussejour (CHI) e Özil (ALE); Luís Fabiano (BRA) e Davi Villa (ESP).

Podiam muito bem aparecer no time: Juan (BRA), Lahn (ALE), Rafa Marques (MEX), Podolski (ALE), Roben (HOL), Iniesta (ESP), Messi (ARG). Não estou dizendo, óbvio, que o Beaussejour seja melhor que o Messi, ou que prefira aquele em detrimento deste. Apenas pelo que vi fazendo dentro das quatro linhas.

Troféu

O único prêmio indiscutível até o momento é o troféu viadinho-mor da Copa: Cristiano Ronaldo. Não jogou merda nenhuma, reclamou à beça, fez um gol sem querer em que a bola bateu nele. Ainda por cima, passa gel no cabelo pra jogar e faz pose pra aparecer no telão.

Portugal x Espanha

A Fúria ganhou justa e limpamente, com um gol absolutamente legal (só os imbecis da imprensa nacional podem questionar um gol "porque o olho humano não consegue ter certeza", como se a regra não tivesse sido alterada justamente para dar ao atacante o "benefício" da "mesma linha"; como se a orientação da Fifa não fosse que, na dúvida, deva se dar o gol), de uma seleção de Portugal que não honrou os mortos de Alcácer Quibir. Vimos o time luso absolutamente apático, sem garra, perdendo na bola e na vontade.

Bela apresentação do time castelhano, que parece estar decolando no momento propício. Some-se ao fato que terá pela frente um Paraguai que, a despeito da valentia e aplicação, apresenta proverbial dificuldade de fazer gols, parece que dessa vez a Espanha emplaca uma semi-final pela primeira vez, se não me engano, na história das copas.

Há mais coisas entre o céu e a terra

Dos treinos-espetáculo para dez mil pessoas, em 2006, viramos para um hermetismo cartuxo da seleção brasileira na África do Sul. O que diabos está acontecendo com Elano? Tomou a pancada na canela, vá lá. Mas três jogos fora??? Que lesão é essa? É óssea? É muscular?

O fato é que, sem Ramires, temos problemas para armar o meio-de-campo, a não ser que alguém acredite que o Cléberson ou o Felipe (acertei!) Melo sejam a solução para os nossos problemas. Atrasar Robinho, dizem uns, pode ser a fórmula para não perdermos em capacidade de criação, deixando a marcação a cargo de Gilberto e Daniel, e Nilmar à frente com Fabiano.

Opiniões?

Frase da Copa

“Todas as vezes em que não foi eliminada, a Holanda chegou na final.”

(Walter Casagrande Jr., o estatístico, ontem durante a transmissão de Brasil x Chile)

Laranjas

Acredito que, com essa próxima partida, a Holanda passe a ser nosso mais freqüente adversário em partidas decisivas na história dos mundiais, com quatro confrontos (logo após vêm Itália, França e Chile, com três, corrijam-me se a memória estiver falhando, porque não fui no gúgol). E o retrospecto é equilibrado: uma vitória deles em 74, uma nossa em 94 e um empate em 98, quando levamos nos pênalties defendidos por Taffarel.

Acho que é uma tremenda de uma pedreira. A Holanda tem uma maravilhosa campanha recente, e está jogando bem: movimenta-se muito, contra-ataque envolvente; e tem o tal do Roben, que pode desequilibrar, embora esteja mais meia-boca fisicamente que o Kaká. Pelo menos parece que a marcação não é o seu forte, um time que joga e deixa jogar.

Nada comparado ao drama de argentinos e alemães, mas estou sem sono desde ontem.

Paraguai e Japão...

...jogarão durante três dias e ninguém fará um miserável gol. Times aplicados, taticamente organizados, fortes fisicamente, marcação implacável, mas com deficiências técnicas assombrosas. Um festival incomparável de (não) domínios de canela, chutes para lateral, cruzamentos errados etc. etc. etc.

Sorte de quem passar de Espanha x Portugal.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Hegemonia sul-americana

Todos os times sul-americanos classificaram-se. E não só. Classificaram-se exibindo um bom futebol. Mesmo o Uruguai, para mim o mais fraco dos cinco, acabou convencendo.

Enquanto isso, fiascos europeus como o da Itália e o da França (Inglaterra classificou, mas tem um time pavoroso; Portugal tem 15% de ex-brasileiros na seleção; etc. etc.) lançam um interessante debate sobre o efeito da importação maciça de jogadores sul-americanos e africanos. Eles fazem campeonatos caríssimos, montam times estrelados, mas seus selecionados não conseguem manter o padrão de qualidade desses certames.

Quem sabe essa Copa sinalize o começo de uma mudança na dinâmica do futebol global.

Oitavas

Bem, a Copa começa pra valer amanhã.

Dos oito jogos decisivos, destaque para Brasil e Chile, que deve ser uma partida de bom futebol, jogo ofensivo, além da rivalidade sul-americana. Alemanha e Inglaterra dispensa comentários: quatro títulos mundiais em campo. Porugal e Espanha será um conflito bastante interessante, bastante equilibrado e também envolve uma rivalidade. Aposto mais na Espanha. México e Argentina também vai ser bom de ver, mas acho sinceramente, pelo que vi, que a equipe asteca não segura os pupilos de El Pibe.

De resto, Paraguai, Uruguai, EUA e Holanda estão, para mim, com um pé nas quartas.

Chile x Espanha

Dos times que vi jogar nessa primeira fase, Chile e Holanda apresentaram, para mim, o futebol mais interessante. A equipe andina perdeu da Espanha, mas o resultado não refletiu o que foi a partida, em meu ver. A Espanha é um time de bons valores individuais, atacantes perigosos, e acabou marcando um primeiro gol achado, numa saída atabalhoada e desnecessária do arqueiro chileno.

Mas o Chile tem dois meias habilidosos, Valdivia e Sanches, um zagueiro habilidoso, Ponce, e eum ótimo atacante, Beausejour. Perde-se, infelizmente, num abuso da violência e numa certa displicência, que vai do técnico ao goleiro, mas seria uma perda para o futebol a sua desclassificação. É uma equipe que vai dar trabalho. Tomara que trema frente à Amarelinha, como de hábito.

Brasil x Portugal

O que mais deixa a gente com a pulga atrás da orelha não é o empate, não é o jogo ruim, o futebol ruim. O que preocupa, de verdade, é a confirmação de uma preocupação que já se fazia sentir na convocação: quem arma o time na impossibilidade de se contar com Kaká? Seja por força de uma expulsão, seja por suas condições físicas duvidosas, seja numa partida onde ele por qualquer razão não consiga produzir o que dele minimamente se espera.

Para agravar, não tivemos Elano e Robinho, até agora não se sabe ao certo por quê. A timidez de Dunga em mexer no time pra valer (só o fez com a entrada de Ramires, que foi até bem, mas faltando 10 minutos para acabar o jogo), procurando uma alternativa real àquela bisonha linha de 4 volantes que só fazia tocar a bola no meio, sem mínimas alternativas de progredir, desperdiçou uma chance de procurarmos um jeito de jogar sem nosso único meia autêntico, quando ainda se podia perder. Um problema que pode vir a se repetir (toc, toc, toc).

Assim, nem para isso o jogo de hoje serviu. Passe para os anais como uma das piores apresentações de uma seleção brasileira em Copas do Mundo, só comparável, na minha lembrança, ao time patético de Lazzaroni em 90.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Aliás...

Goste-se mais ou menos do que a Argentina vem apresentando (não sou dos mais empolgados com o que vi, mas temo grandemente o "cheiro" de campeã que essa seleção vem exalando), o fato é que esse foi disparadamente o grupo mais baba da primeira fase, mesmo sem saber o que será do eletrizante jogo frente a Grécia. Vamos ver daqui pra frente.

México x Uruguai

Primeiro tempo muito franco, com mais volume mexicano, malgrado o Uruguai chegasse com mais perigo. O empate seria mais fiel ao que se viu. Após o gol, a Celeste acabou ditando o ritmo durante todo o segundo tempo. Chamou a atenção a atuação do zagueiro/ala Fucile.

Os cisplatinos fizeram uma campanha inconstestável até aqui. Continuo achando o time bastante limitado, mas a seqüência da Copa os favorece, tendo em vista que o adversário das oitavas será definido entre Grécia, Nigéria e Coréia do Sul. Qualquer um dos três, pelo apresentado até aqui, terá que fazer milagre para tirar os uruguaios das quartas.

De minha parte, continuo gostando da seleção mexicana, que joga um futebol alegre, solto, embora carente de um talento individual ou de uma liderança mais efetiva (como é Forlán no Uruguai). Estarão bem encrencados diante dos pupilos de Dom Diego.

Pero no mucho

Com 15 minutos do primeiro tempo, nada, nada de conversa mole. Grande jogo!

Hermanos

México x Uruguai pode ser um jogo histórico, valendo o primeiro lugar e o não cruzamento com a Argentina nas oitavas, como pode ser uma modorrenta conversa de comadres, alla Áustria x Alemanha na Copa de 78, a mais vergonhosa partida de futebol que assisti nesses 33 anos de arquibancada.

Fazendo as contas

Pelo que se viu até agora, a tendência é a Suíça ganhar de Honduras. E, convenhamos, o Chile tem tudo para não perder da Espanha. Isso confirmado, a Fúria estará, mais uma vez, fora. E pegaríamos a Suíça que, na minha opinião, de todos os adversários é o mais encrencado para o estilo de jogo brasileiro, por jogar fechada demais.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Materialismo histórico

“A luta de craques é o motor da História.” (Luiz Antônio Simas)

Todas as atenções...

... para Chile e Suíça, valendo a liderança do grupo e podendo apontar nosso possível adversário nas oitavas.

Canal 1000

Talvez porque a alta-definição já fosse uma realidade, em função do uso da película no lugar do VT, talvez porque já se recorresse abundantemente aos closes e aos ângulos improváveis, no que talvez fosse um avanço além de seu tempo, o fato é que o xou de imagens dessa Copa evoca para mim algo do jeito Canal 100 de registrar o futebol, que tanto marcou o imaginário dos garotos ora quarentões.

Não foi uma nem duas vezes que já me peguei com um travo na garganta.

En passant

Do fim-de-semana em que quase não pude parar diante da tv, ficou a sacramentação da classificação holandesa, a boa exibição paraguaia (que aponta para uma histórica hegemonia sul-americana nesta primeira fase - de se ver), e o vacilo italiano.

Não é demais lembrar, contudo, que a Azzurra empatou as três partidas da primeira fase na Copa de 82.

Explode, coração

Um dos indicativos mais eloqüentes de que o futebol-xou mundial ruma hegemonicamente para uma massaroca insossa e enquadrada nos padrões do consumismo pretaportê é a ausência das comemorações autênticas, espontâneas na hora dos tentos. Porque gol é catarse, é orgasmo, é o gosto ( e o axé) do sangue da presa abatida. Pelé, el monstro, que fez só 1.300, nunca deixou de explodir de alegria-raiva, maximamente expressas no indefectível soco no ar, mesmo nos tempos globitróters do Cosmos de Nova Iorque.

Em tempos de coreografias e proselitismos (acho que já disse isso), gostei de ver a vibração dos jogadores portugueses, mesmo depois que a sacola dos coreanos já estava até o tampo. É isso, sobretudo, que me faz respeitar - e temer - o time de Dom Sebastião, para muito além do jogo de sexta, bem mais do que o insuportável Cristiano Ronaldo.

República Democrática Popular da Coréia x Portugal

A quem defenda que, com 7 x 0, não haja o que dizer. Mas há.

A digna República Democrática Popular da Coréia (assim eles gostam de ser chamados) caiu de pé diante de uma superioríssima e inspirada seleção portuguesa. Os coreanos, sabedores que uma derrota os eliminaria do Mundial, vieram abertinhos da silva para a etapa derradeira. E deu no que deu. Porém, muito diferentemente dos açougueiros safados da Costa do Marfim (que há de amargar a última posição no grupo, torcerei até a morte!), até os 25 minutos, mesmo já perdendo de quatro, haviam feito uma única falta no segundo tempo, contra 16 de Portugal. Menção honrosíssima para o guerreiro patriota Tai Se, que ama a terra de seus pais e compreende os significados sagrados e eternos da luta futebolística. Que fala português e carrega o time nas costas sozinho.

Brasil x Costa do Marfim

Tentando manter a linha, em todos os sentidos, quero dizer que fiquei feliz com a apresentação do escrete, ontem. Não que eu ache que nossos problemas tenham acabado, ou que tenhamos achado o futebol dos sonhos. Mas um futebol da realidade, sim, por que não? Da nossa realidade atual, do futebol-xoubíznes, dos cartolas mafiosos, do modismo consumista, do império do politica-moral-religiosamente correto, da falta de carisma etc. etc.

Mas o fato é que, num verdadeiro jogo de Copa do Mundo, pegado, catimbado, com os adversários que vieram com a caixa de ferramentas prontinha para distribuir, tocamos bem a bola, começamos a mostrar nosso jogo, com nossos jogadores menos amarrados.

Ao contrário do que muita gente que vê o jogo mais como fígado que com os olhos, eu que vejo com a alma gostei do grande Luís Fabiano justificando minha confiança, com direito a gol de Pelé, sim senhor. Meio-Pelé-meio-Maradona, pra ser mais exato. Maicon foi mais discreto, mas compensou em garra, em liderança, em sangue-nos-olhos. Robinho idem, mas não se omitiu do jogo, com uma presença mais tática; ainda acho que vai fazer a diferença, na hora que o bicho pegar. E Juan soberano, como de hábito. De resto, Kaká surpreendeu positivamente, melhorando em ritmo, procurando o jogo, dando a cara a tapa (literalmente), embora não seja ainda nem 50% do que se esperaria, caso estivesse em condições físicas mínimas. Ficou absolutamente claro que o técnico tem que saber a hora de tirá-lo de campo, pra que a gente não dê sopa a vocês sabem quem. Volantes também foram melhor, cumprindo a função, com destaque para o Fábio Mello, de quem sempre desconfio.

Cumprimos a etapa, subimos um degrauzinho. Vamos assim. O melhor de tudo é que o estranhamento diminuiu, os gritos de gol saíram mais fácil, com direito a ódio de morte aos sanguinários marfinenses.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os piores

Do que vi até aqui, Austrália e Inglaterra são, disparadamente, os piores times do Mundial.

Não se pode elogiar

O mesmo Téo José, que mandou bem na apologia à cerveja nos estádios, cravou esta, durante a transmissão de Eslovênia x EUA: “O atleta norte-americano, até pelo seu país estar sempre envolvido em tantas guerras, já tem esse espírito de luta, de vencer sempre”.

Comentários?

Segundo time

No intervalo de Eslovênia x EUA, procurando informações sobre o time dos bálcãs, achei meio por acaso a gravação de uma canção tradicional eslovena que meu avô cantava quando éramos crianças, e que nunca mais tinha ouvido.

Resultado: assisti o segundo tempo aos prantos, do primeiro ao último apito, praticamente enrolado na bandeira eslovena. "Dekle je po vodo sla..."

Eslovênia x Estados Unidos

Que jogo, minha gente. Aberto, franco, pegado, nervoso. Dois bons times, jogando pra frente, com muita garra.

Meus compatrícios fizeram um primeiro tempo melhor, mas os desprezíveis ianques reagiram magistralmente na etapa derradeira. E só não ganharam porque o juiz malinense anulou um gol que até agora ninguém sabe por quê.

A definição do grupo será um grande pega-pra-capar. Que se cuide o English Team...

Wo ist Deutschland?

Cadê o bicho-papão?

Avisei, não avisei?

Band

Já se disse que em terra de cego, quem tem um olho é caolho. Outro dia havia aqui feito menção ao desempenho do Animal Edmundo como comentarista, que para mim tem-se confirmado a cada jogo.

Pois ontem, seu companheiro de transmissão, o narrador Téo José, ganhou definitivamente minha audiência para a Band (além da super imagem HD, com sinal infinitamente melhor que o da Grobo), tascando a certa altura da jornada, quando as câmeras focalizaram torcedores mexicanos enchendo a cara de Tecate: “Não tem problema ter cerveja no estádio. A cerveja faz parte do futebol. O problema não está na cerveja.”

Pode ser até óbvio, mas nos tempos bicudos que vão...

Adieu, amis!

Já era. E tarde. A insuportável seleção francesa joga como se estivesse fazendo um favor ao mundo. Um ridículo desaforo aos deuses do futebol.

Os bravos mexicanos, ao contrário, encaram a Copa do Mundo como ela deve ser encarada. Tivessem mais qualidade técnica a auxiliar sua disposição e aplicação, teríamos um forte candidato a fazer bonito de verdade. Mesmo assim, gostei de Barreras e Rafa Marquez. Juntando com a experiência do guerreiro Blanco e o destrambelhamento do tal Giovani dos Santos (lembram do Alex Alves?), ainda acho que o esquadrão asteca pode fazer um papel honroso.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Nigéria x Grécia (1º tempo)

A Grécia é capitaneada pelo meia Karagonis, mas quem fez mesmo a karagada foi o volante nigeriano Kaita (não confundir com o falante compositor baiano), expulso bisonhamente num lance inócuo, complicando a vida de seu time que, até então, dominava as ações.

Coréia do Sul x Argentina

O que eu não agüento, definitivamente, é esse oba-oba de Copa do Mundo, que vira assunto do dia "na boca de quem não sabe o que é sofrer", como no samba do grande Geraldo Filme. O cara entra na sala e me diz: “Vocês estão vendo o jogo? Argentina tá dando um show...” Pergunto se viu o jogo, e o bonitão se entrega: "Vi os dois últimos gols..."

Pois, meus amigos, os números do placar ainda não haviam dito tão pouco sobre uma partida neste mundial. Eu, que só vi o segundo tempo, me surpreendi com um jogo dominado pela Coréia até os 30 minutos, que tocava a bola com velocidade, deixando los hermanitos correndo atrás do prejuízo, com a gravata vermelha até a cintura. Aliás, no quesito preparo físico, o esquadrão de Dom Diego mostrou que é mesmo um time de talento: Tevez tá lento, Maxi Rodriguez tá lento, Mascherano tá lento... E o que é essa zaga, com Demichelis e Gutiérrez?

Infelizmente, aos japas da Coréia o que sobra em aplicação tática e vontade, falta em malícia e habilidade. E isso, convenhamos, os argentinos esbanjam. Com uma mãozinha da arbitragem, então, fica mais fácil dilatar o placar.

África do Sul x Uruguai

O pior jogo do campeonato. Só não deu mais raiva do que do Neto, o cobrador, achando que a Celeste é uma grande candidata ao título e o Forlán o craque da Copa, por terem metido três nos afobados bafana.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Estatística

A estatística é a tradução matemática da burrice das unanimidades. Boa para demonstrar o óbvio, não se presta a captar o sútil, o contraditório, o mutante, o imponderável, o negativo. Completamente inservível, portanto, para as coisas do futebol.

Pois o bravo Neto, o comentarista que cobra faltas com perfeição, sapecou ontem, ao final do jogo de estréia da Seleção, algo do tipo: “Quem disse que o Kaká não jogou? Ele correu mais de oito quilômetros ao longo da partida...”

Dentro e fora

Entre os ex-jogadores que vêm batendo suas bolinhas nos microfones televisivos (como já lhes disse, estou órfão do rádio), o improvável Edmundo tem correspondido bem mais ao seu histórico dentro das quatro linhas que o tímido Júnior, o lobotomizado Casagrande e o italianíssimo Falcão Záccaro. Mesmo ainda carente de maior desenvoltura com as palavras, o Animal tem acrescentado pitacos pertinentes e alguns bons toques de boleiro, que às vezes fazem a diferença.

Só perde, na comparação da atuação dentro e fora dos gramados, para o bonzinho Caio, que tem diante da tribuna global o mesmíssimo desempenho, tão nhenhenhém, tão são-paulino, dos tempos de jogador.

Fúria

Dizer o quê?...

Futuro

Com a vitória do Chile diante de Honduras, o bicho vai pegar na chave H, de incontestável interesse para nós (vejam como estou otimista hoje).

Espanha x Suíça

Melhor jogo da Copa até agora, pelo qual eu não dava dois tostões de mel coado, mas que assumiu tons dramáticos após o gol suíço, com direito a bolas na trave e muitas chances desperdiçadas de parte a parte.

A Suíça é a melhor surpresa do mundial para mim. Um time que joga fechado, marcação forte, como é de sua tradição, mas que ineditamente sai com rápido toque de bola e tem bom potencial ofensivo. A Espanha também jogou bem, até melhor, mas ressentiu-se, em minha opinião, mais do que de um artilheiro-definidor, de um líder, de um jogador de carisma e personalidade que pudesse encarnar a responsabilidade de chutar para o mato a sina espanhola de históricos fiascos em mundiais.

Japonês

O blogue tem que ser lido de baixo pra cima, porra.

Atire a primeira pedra...

... quem vibrou com o primeiro gol do Brasil.

Questão de moda II

Repete-se, nas ruas da Bolha (aquela parte da cidade em que se concentra essa gente pouco bronzeada que sabe o valor nutritivo de uma porção de granola), o espetáculo que grassa ultimamente nos estádios brasileiros. Os bares - não os butiquins, frise-se - abarrotados, gente chiquérrima, todo mundo de verde-amarelo, como manda o figurino. Bandeiras mil. Uma euforia desenfreada. Gente que não está nem aí pro futebol, e muitíssimo menos pro Brasil, se matando no trânsito e no metrô.

Queria muito, mas muito mesmo, ter visto o jogo um pouco menos longe de qualquer resquício do povo brasileiro.

Hei de torcer, torcer, torcer...

O escrete é uma instituição nacional, “verás que um filho teu não foge à luta”, “hei de torcer até morrer”. Não cerrarei fileira com os baba-ovo, mas também não dá pra tapar o sol com a peneira. A verdade é que, pela primeira vez na vida, senti que torcer não foi visceral, não diria nem que tenha sido muito natural; foi mister, senão um esforço, ao menos uma certa determinação. É isso: sentimento x atitude, mas no sentido oposto do que vinha sendo ao longo das últimas oito copas, quando o coração palpitava pela canarinho, a despeito da razão reconhecer os desmandos, a corrupção, a venalidade, o desrespeito etc.

Mas vamos lá. Detestava o Lazzaroni e quase morri no gol do Canilla, naquele fatídico 24 de junho de 1990. Morri de chorar, de raiva-alegria, quando Baggio perdeu o pênalti. Chorei também quando Taffarel pegou dois contra a Holanda, a despeito da marra de Zagallo (sabia que sentiria saudade do velho...) et caterva.

Favor

Não me perguntem, encarecidamente, por que não gosto de Júlio César.

Brasil x Coréia do Norte

Estreiamos, enfim. Ai, ai... Não vou chover no molhado. Babaquice a pseudo-frustração de alguns, achando que iríamos meter meia-dúzia na Coréia: Copa é Copa, estréia é estréia. Babaquice também achar que tudo está no seu lugar, graças a Deus.

O que me ficou do jogo:

- acho que, até agora, só podemos contar (no sentido em que a gente conta, nos momentos em que a vida pega pra capar, só com pai e mãe), no duro, com quatro jogadores: Maicon, Juan, Robinho e Luís Fabiano. Esse último, nem pelo jogo: voto de confiança.

- fora isso, merecem menção o esforçado Elano, por razões óbvias, e Michel Bastos, por não tão evidentes. Claro que eu acho absurdo sermos apresentados a um jogador numa estréia de Copa. Mas achei o garoto esperto. Se não amarelar, na hora em que os adversários tiverem mais que 1,50m de altura...

- de resto, o absolutamente esperado. Fora a falha surpreendente e inaceitável do bom Lúcio.

Certo, certo, mesmo, só o seguinte: façam seus checapes cardíacos antes de domingo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Coincidência

Caçoei do mano Edu Goldenberg, ontem, quando me contou que já estava nervoso com o jogo do Brasil.

Acordei hoje com uma baita dor de barriga. Certamente por conta da azeitona da empada.

Drogba

Copa do Mundo, por ser um torneio rápido e mortal, tende a consagrar os craques que decidem. A história dos mundiais, com raras exceções (praticamente só na Hungria/54, na Holanda/74 e no Brasil/82), não tem muito espaço para os grandes estilistas de quinta colocação, para os dribladores de oitavas-de-final, para os gênios dos campeonatos morais.

Pois o tal Drogba, de quem tanto dizem, perdeu um gol na pequena área, aos quarenta e tantos do segundo tempo. Um gol que botaria seu país com uma mão na classificação – histórica - para as oitavas. Amarelou, desistiu, quis cruzar pra trás.

Poderá alegar, em sua defesa, a recente contusão. Mas na minha bola de cristal, sua sentença já está lavrada pela História.

Costa do Marfim x Portugal

Acho que foi o primeiro jogo que eu vi com pegada de Copa: disputado, tenso, provocativo. Mui certamente por terem consciência que em seu grupo terão pela frente o gigante máximo do futebol mundial, as duas seleções ficaram num zero-a-zero nada tedioso, pra mostrar que a nossa vida não vai ser nada fácil. Os dois times mostraram que sabem a que vieram, com direito a um sufocasso da Costa do Marfim nos derradeiros instantes da peleja.

O resultado foi excelente pra nós, que praticamente classificamos com uma vitória logo mais. Façamos, pois, a nossa parte e os demais que se matem.

Paraguai x Itália

Uma das últimas modas tecnológicas são os programas de computador que calculam quantos quilômetros o jogador correu numa partida. É claro que, bem no espírito Dunga, a coisa não poderia ficar no registro estatístico: quanto mais o sujeito correr, mais é considerado um jogador exemplo de aplicação tática etc. etc. etc. Ao ensejo, esses dias o Doutor Sócrates sapecou: se no futebol fosse pro jogador correr, a bola seria quadrada...

Pois deveriam ouvir o arqui-sabido craque brasileiro os scratches (quem estiver estranhando o abuso dos angliscismos por aqui, leia a justificativa aqui) de Paraguai e Itália. Fiquei cansado só de ver o jogo. O primeiro tempo, então... A Itália mostrou a sua proverbial aplicação, enquanto o Paraguai, mais solto, mostrou personalidade, como disse “Seo” Leovegildo na Grobo.

De resto, cada um achou um gol de bola parada e só.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fora de questão

O Obina é, mesmo, melhor que o Eto'o.

Questão de moda

Um contumaz marcador de Pelé (ajuda aí, Zé Sérgio), perguntado certa vez sobre o que mais o impressionava no futebol do Rei, declarou que era o seu “olhar de fera acuada”. A resposta intrigante - para dizer o mínimo, em vista de todos os notórios atributos técnicos e atléticos que o Divino Crioulo sempre ostentou - me leva a pensar no quanto o prélio é disputado também no terreno visual; e do visual, claro, para o simbólico. Porque, óbvio, o futebol é um jogo de homens; e os homens somos, todos, uns seres visuais.

Isso tudo pra dizer que, possivelmente em razão do novo modelito das camisas dos jogadores, o porte físico tem ficado muito mais destacado, o que traz para os jogadores africanos, por exemplo, um passo adiante na largada. Encarando aqueles negralhões colossais, o adversário já dá o ponta-pé inicial com uma pulga a mais atrás da orelha.

Não?

Questão de geometria

Não sei se são essas novas tv's esticadas, se é mesmo a tal Jabulani, ou se estamos querendo imitar o futebol americano (aquele que se joga com armaduras medievais): o fato é que a bola tem-me parecido invariavelmente oval.

Decepção

Não vi Gana, mas me contaram. Vi Nigéria, vi África do Sul, vi Camarões. Até agora, só os bafana livram a decepção africana de ser completa. Onde aquela irreverência, aquela alegria, aquela habilidade que já nos encheram tanto os olhos?

Que assim continuem. Pelo menos até domingo.

Camarão que dorme, a onda leva

Num primeiro tempo disputado, mas tecnicamente sofrível, depois de insistir e insistir numa única e improvável jogadinha pela direita, com bola levantada na área sobre os colossais zagueiros camaronenses, o esquadrão ninja cravou 1 x 0 num lance de muita sorte do motoqueiro Honda, depois da bola ter batido em seu joelho.

Os africanos só acordaram pro jogo na etapa final, mas não conseguiram reverter a desvantagem, faltos de de maior contundência. Com um tirambaço de fora da área espalmado pela trave e uma defesa milagrosa do arqueiro japa, as redes nipônicas permaneceram intactas, complicando demais a vida dos negrões no grupo, que já não dependem só de si.

Olho nesse grupo.

De repente...

... não mais que de repente, Camarões x Japão virou um jogo de grande interesse. Não só porque defronta duas escolas muito diferentes, mas sobretudo porque, quem perder, está praticamente fora da disputa pela outra vaga do grupo (a primeira é laranja).

Holanda x Dinamarca

Rapaz, gostei. A Laranja Mecânica, mesmo sem o amigo do Batman (que dizem que joga muito), tocou bem a bola, movimentou-se à beça, com velocidade e eficiência. Os caras deram a entender que sabem o que estão fazendo. Pelo que vi do segundo tempo, tivesse a Holanda jogado um tiquinho a mais do que só pro gasto, a cartesiana Dinamarca teria tomado um vareio. Destaque para o negão Elia (atentem para a falta do "s", para não confundir com o grande craque Corinthiano dos anos 90, que atuou ao lado de outros gênios como Embu, Ezequiel, Baré, Norton et alii), que entrou aos 20 do segundo tempo e, em meia-dúzia de vezes que pegou na bola, tirou o sono da defesa escandinava.

De se ver, malgrado os Países Baixos sofrerem de propalada ejaculação precoce copística: entram com tudo, se movimentam demais, têm prazer no começo e caem fora antes de terminar o serviço.

Voltando ao posto

Tirando isso, não vi mais nada. Vou assistir o segundo tempo de Holanda x Dinamarca, porque o primeiro dediquei, de todo meu coração, ao Metrô tucano de São Paulo.

Falando nele...

As cartas que chegam à redação do Dibrinho têm perguntado porque é que eu venho me torturando com o besteirol galvãobuenístico, com "tantas" opções à disposição atualmente, na era pós-monopólio global.

Tantas, vírgula. Minha tv ainda é a bombril, portanto, se eu escapar de lá, tenho que encarar o Luciano do Vale gagá falando da eleição da miss Pernambuco e o Neto com as suas sacadas de gênio. Isso tudo com 44 jogadores em campo, por conta dos fantasmas... (quem não souber o que é "fantasma", por favor, deixe de ler o blogue).

Alemanha x ...

... quem mesmo? Até abri mão de nomear as porfias iniciando pelo time de minha torcida, só pra não perder a piada. Porque, a despeito dos orgasmos múltiplos de Galvão, Casagrande (que anda mais pra conjugado) et caterva, a verdade é que os tedescos jogaram contra ninguém. É claro que quatro a zero numa estréia de Copa não são de se jogar fora, em qualquer circunstância, mas me pareceu cedo pra tanta empolgação.

Aliás, querer fazer comparação do esforçado, oportunista e experiente Klose com Ronaldo (aquele mesmo), o maior artilheiro da história das Copas, é coisa que só pode sair da metralhadora giratória da maior mala da crônica esportiva brasileira em todos os tempos.

Das duas...

... partidas desse sábado, acho que a Argentina já papou a classificação no seu grupo, posto que a Nigéria aparentemente seria o problema fundamental a ser superado. O segundo posto vai ser disputado entre os negrões e os japas coreanos, que despacharam os helenos para as calendas.

Salvação da lavoura

Falando nele, impossível negar que El Pibe continue, depois de tantas, sendo a figura mais interessante de uma Copa notadamente marcada pela mesmice bem comportada prêt-a-porter pelo xoubíznes.

Nigéria x Argentina

Desalojado do meu privilegiado observatório, por força do fim de semana, vi o jogo meio de soslaio, e mesmo assim só o segundo tempo. A impressão que fica é que a Nigéria é um time mais comportado do que a gente normalmente espera do futebol africano. Não tenho mais sentido aquele alegre descompromisso de outros tempos. Aparentemente, um time sem grandes inspirações, forte, sem muitos jogadores diferenciados, à exceção do goleiraço.

Já os nossos hermanitos me pareceram ainda um time sem muito padrão de jogo, montado de maneira esquisita, que conta com o elemento surpresa a partir do talento de seus homens de frente, notadamente o tal do Messi. Incomodamente parecido, aliás, com a história de 86. Vamos ver se o craque de hoje vai dizer a que veio tanto como o de antanho.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Apesar do velho tênis, e da calça desbotada...

Na era da tv de led, cinco mil câmeras, de cinco mil diferentes ângulos, infra-vermelho pra pegar o pum que o jogador soltou na hora do chute, sinto uma baita falta do radinho de pilha... Que não dá pra usar durante as transmissões dos jogos, por causa do tal delay.

Peixe fora d'água

Sinto-me um marciano.

Nunca ouvi falar de jogadores que o Galvão Bueno trata com uma intimidade de lençóis. Desfia o currículo do sujeito, que jogou no time tal, depois foi para aquele outro, do país Êne (o chapèuzinho não é português, como diria o Otto, mas ajudou, para o que me propunha; o acento grave é – ou era, antes do primeiro de tantos estupros...). Dou-me por satisfeito quando conheço – de nome, claro – o país.

Frigir dos ovos


Pelo que se viu hoje: no grupo A, cuide-se quem for campeão do mundo.

Uruguai x França


A França, como é seu hábito, fez uma estréia tediosa frente ao aplicado, mas modesto, esquadrão celeste. O jogo só melhorou (para os franceses) quando – eureka! - o genial treinador gaulês resolveu colocar em campo quem conhece um pouco de bola. Mesmo velho, o insuportável Henry, em quinze minutos, mostrou que esse negócio de Copa não é pra qualquer mané. Maloudá idem.

Do Uruguai salvou-se o aguerrido Forlán, que do pai herdou o nome de craque. Só. Chamou-me a atenção, também, a atuação do botafoguense (há coisas que só acontecem com o Botafogo...) Abreu: nem ele joga, nem eu.

Nova ordem mundial


O que é o que é?...
Dois times estão se enfrentando, um europeu e um sul-americano.
Um deles tem dez branquinhos e um mulato desbotadinho.
O outro tem uns oito crioulões monumentais, entre mulatos e pretos, uns retintos.
Qual dos dois é o time europeu?

África do Sul x México


A interessante seleção mexicana fez um belíssimo jogo de abertura contra os bravos anfitriões; esses, fortes, motivados, destemidos. Jogaço, rápido e franco, com um primeiro tempo melhor dos mexicanos, que mereceriam uma vantagem. No segundo, os bafana voltaram mais ousados (talvez para desespero de seu sempre cuidadoso treinador – mas aí é só maldade, mesmo) e deram uma canseira. Saíram na frente, perderam inacreditável chance de fazer dois a zero e matar o jogo (e, muito provavelmente, o problema de sua tão almejada passagem da primeira fase, posto que, apesar do equilíbrio propalado, disparadamente o México é o time mais abalizado para papar esse grupo). Cederam o empate para um time organizado e mais experiente, e quase ainda cravaram uma bela vitória, ao meter uma bola na trave aos quarenta e tantos do segundo tempo.

De resto, emocionou a comemoração do artilheiro africano, punhos cerrados, veias saltadas, grito explodido garganta a fora. Deveria ser o corriqueiro – e era -, mas nesses tempos de coreografias e proselitismos...

Ganhou, mesmo, o amante do bom e velho futebol.

Satisfação


Achei que não estava nem aí. Mas a verdade é que, foi a bola rolar, e eu me vi novamente o menino-rapaz que deitou tanto riso, lágrima, suor e saliva em nome dessa inexplicavelmente fascinante brincadeira, menos grave, mas não menos séria que as outras tantas guerras que pipocam por aí.

Como futebol só tem graça se tiver com quem discutir; como ando sozinho de marré, marré, marré -de-si; e como em butiquim anda difícil conversar, porque todo mundo só quer ver televisão, resolvi conversar comigo mesmo aqui nessa página, que vai durar esse mês. Quem quiser se meter na conversa...