Passada a estréia e as
incertezas todas que a cercaram, despertamos para a realidade sempre
dura: nossos piores inimigos estão aqui, dentro da nossa casa. E não
me refiro à Argentina, Alemanha, Itália ou Espanha, hospedadas nos
rincões Brasil a fora. Falo da crônica esportiva bossal e dos
detratores do Brasil. Uns e outros, velhíssimos conhecidos. Nem há
porque se perder muito tempo.
Para quem não
eventualmente não tivesse visto o jogo e só pousasse no planeta
terra a tempo de ligar nos programas esportivos pós-partida, teria a
certeza de que levamos um vareio de bola e ganhamos por exclusiva
interferência dos erros de arbitragem. Tivesse o pênalti
habilmente cavado por Fred sido obra da simulação de um Messi, por
exemplo, seria aclamado como gênio absoluto da picardia, que
todo o craque tem que ter. Como foi o nosso bom camisa 9, que nem na Europa joga... É a mesma lógica: gol de mão de Maradona: gênio! Se o gol de mão fosse de Neymar: só ganhamos ajudados pela arbitragem...
Agradeço aos Deuses
todos o Escrete não ter sobrado, nem ter dado espetáculo. Foi a
sobra pra cima dos adversários que forjou a tragédia de 50 – toc,
toc, toc – junto com as propensões bipolares de nossa torcida e a babquice da crônica.
Sigamos assim. Axé!
5 comentários:
Fernandão, brilhante esse comentário.
Marcão
Título: Fazer aqui é fácil, quero ver fazer na várzea!
O Lugar:
Brasil, país do futebol, com torcida crítica e sabida do esporte, no bonito estádio hp laserjet do corinthians, dos mais populares do Brasil, que pensava até pouco tempo que jamais teria um estádio, abertura de copa do mundo. Sem torcida, sem bandeira, sem charanga ou batucada. Com plateia, isso mesmo, plateia cantando a débil: “eu sou brasileiro, com muito orgulho...” de dormir ou, como no meu caso, acabar com as unhas. Houvesse alí a torcida do futebol, quando a seleção entrou pro aquecimento, dada toda a expectativa, aquele estádio já viria abaixo e seria, de fato, estádio e não arena.
Abertura:
Em terra de Fernando Pinto, João 30, de São João e Parintins, assinou a abertura uma belga.
Em terra de Caymmi, assinou a trilha o Pitbull (que para mim, é lessie) e a executou no melhor esquema “Trio Los Angeles”, com a loira brasileira e a morena americana.
O Hino:
Na marra, levaram o hino, catimbeiros, para além da trilha da fifa. Bonito. Mas o “filho teu” largou a luta pela metade. Via de regra pode-se executar até a metade se for instrumental, se for cantado, tem que ser inteiro. Mas a plateia da arena gostou. Eles gostam mesmo disso aqui até uma parte só. Que eles pensam pretensamente que é a metade, diga-se de passagem.
O Jogo:
Oscar jogou 70% do que sabe e pode. Sem ele este time assumirá a burocracia de toques de lado e zagueiro lançando o centro-avante.
Luís Gustavo, em seu visual Café Nice, (ouvindo a entrevista de Luís Gustavo, fiquei com a impressão, graças à descrição do Szègeri, que ele iria cantar a Dama do Cabaré a qualquer momento), jogou muita bola e corrreu pra Paulinho, pra Marcelo e pra “Dani”.
Marcelo e “Dani” são frutos dos estrategistas do futebol Moderno. Desfeito o esquema com laterias e pontas, esqueceram de ensinar a função de lateral aos pontas, e a função de ponta aos laterais. Ficaram assim, nenhum nem outro, alas. Esses dois seriam pontas ruins e são lateriais que não sabem marcar. Salve Luís Gustavo.
Neymar, para mim, ficou devendo (!). Explico:
Não acho que o juiz era nosso. Era deles. Se fosse nosso, teria ganhado o Fred e não dava aquele penalti e teria certamente, expulsado o Neymar. Mais pela maldade desnecessária que pelo golpe de fato. Tá esquisito esse garoto.
Nosso alí, era o goleiro croata. Só fez uma defesa no primeiro tempo, que seria o empate do Brasil num chute do Oscar. O resto, largou.
O Guilherme certa vez me perguntou: — Credo, Pai! Porque que você fala ahhhi toda vez que abaixa?
Me lembrei da questão vendo o goleirão indo para as bolas nos chutes de mascado Neymar e no biquinho de Oscar. Deu pra ouvir de casa o gringo se esticando e soltando aquele ai suspirado: aaaahhhhhiiii!. A mão de alface no penalty, muito mal batido, não necessita comentário.
O Bigode
Bigode me surpreendeu positivamente:
Achei que Paulinho, que não diz a que veio há mais tempo que Oscar, fosse intocável. Saiu pra entrar o Hernanes que seria meu titular.
Achei também que o Bernar só entraria em caso de jogo ganho, coisa de 3 X 0, alí pelos 15 do segundo tempo. Ou então em caso oposto, 3 x 1, numa tentativa já desesperada de empate ou virada.
O Fred
Porta-voz da patuléia.
Confesso que gritei gol quando ele dominou a bola. Do jeito que ele dominou e sabendo que ele tem uma boa noção espacial, se ele bate, guardava. Caiu. Quando ele caiu, caiu, para mim, todo o cenário de um Brasil de fachada, com plateia branca e maquiada se fotografando para sí mesma, vociferando com boca espumando seu ódio ancestral contra a Dilma, e tendo respaldo no braço repressor que executa gás de pimenta a queima-roupa. Caiu o pirlim plim plim, e apareceu o Brasil que deveria estar alí e não estava. Como no teatro, o farsesco para desmascarar a farsa. Ele, o único jogador que atua no Brasil. Com um truque, refletindo o evento todo que estava sendo exibido alí, transformou aquilo tudo num campinho com trave de bambú, num rachão da várzea. Comemorei mais que os gols propriamente.
Foi o recado da patuléia:
Fazer aí é fácil, quero ver na várzea.
Sensacional...!
Aliás, é exatamente isso: tudo é truque ali. Quando um boleiro velho de guerra se vale do truque, a platéia cai de pau. É o mesmo raciocínio do texto: truque de preto, de pobre é macumba, feitiço, malandragem, 171. Truque de branco, de rico é empreendedorismo.
Foi pênalti. Fred teatralizou demais - mas foi pênalti (quanto mais revejo o lance, mais a certeza se sedimenta em mim).
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