Prometi, mas não cumpri. Já posso me canditar nas próximas eleições... Mas só mais essa, mesmo, antes da derradeira.
Na verdade, vou arriscar um palpite, coisa que dificilmente faço. Um palpite para a final.
Dentre as quatrocentos e trinta mil, duzentas e vinte e nove modalidades esportivas conhecidas, o futebol só é o que é porque, como na arte, encerra uma dose muito significativa do drama humano. E não só como representação. Enquanto drama real, o futebol envolve muito mais que habilidade, desportividade, capacidade física e técnica etc. etc. etc. A Copa do Mundo, por muitas razões, é o grande ápice do futebol e, por conseguinte, dessa carga dramática. Mais do que em qualquer outro momento, entram em cena, em sua disputa, altas doses de farsa, desespero, euforia, corrupção, desejo, velhacaria, religiosidade, canalhice, violência, erotismo, simulação, dissimulação, malandragem, mandinga, patifaria, vergonha, devoção, coragem, traição etc. etc. etc.
Penso, agora, nas decisões e nos campeões de muitas Copas. Andando para trás, penso na semi-final apoplética em que a Itália ganhou da Alemanha, e na cabeçada do gênio Zidane. Penso na ajuda da arbitragem para o Brasil diante da Bélgica. Na convulsão de Ronaldinho. Na encolhida da bunda de Romário e no pênalti chutado por Baggio. No gol de mão de Dom Diego. Na Itália desacreditada que não ganhou nenhuma na primeira fase, com Paolo Rossi & Cia. No Peru entregando o jogo para a ditadura. No gol inglês em que a bola não entrou. Em Garrincha que jogou a final, apesar de expulso contra o Chile. Em Ghiggia e Barboza. Só as vitórias alemãs parecem escapar dessa sina.
A trajetória holandesa nesta Copa é feita de atuações relativamente tranqüilas (mesmo nos momentos de maior aperto), lances de sorte, eficiência, gols fortuitos, e até uma certa displicência. A espanhola é feita de derrota na estréia, de sufoco contra Portugal, de sufoco contra o Paraguai (com direito a dois pênaltis perdidos, de lado a lado), de sufoco contra a Alemanha.
A não ser que os velhos deuses do futebol estejam, mui excepcionalmente, de folga nesse domingo, acredito que o destino do Caneco, pelos próximos quatro anos, esteja selado: repousar em terras de Aragão e Castela.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Afinal
Prometo que, mais uma postagenzinha só, para saudar o campeão, e voltarei ao meu silêncio obsequioso. "De onde eu nunca devia ter saído".
A Final
Teremos, enfim, mais um iniciado no seletíssimo círculo dos campeões mundiais. Achei que as duas seleções chegaram com justiça. Será o duelo da eficiência laranja, não muito vistosa, mas fatal, contra a exuberância do toque de bola espanhol, que não se tem traduzido em número de gols. Prognóstico dificílimo, promessa de um jogo histórico.
Espanha x Alemanha
Jogaço, aço, aço, aço, aço. A Fúria jogou muuuuuuuita bola e dominou completamente o eficiente meio-campo germânico. O trio de meias Xavi-Alonzo-Iniesta (este, especialmente, fez para mim, neste jogo, a maior atuação individual desta Copa) é de encher os olhos, um dos melhores que vi nos últimos muitos anos. A facilidade com que tocam e dominam a bola... Sergio Ramos é um baita lateral e o zagueiro Puyol fez a diferença, com raça e liderança, e aparecendo de surpresa no gol de bola parada. O jovem Pedro mostrou personalidade, habilidade e ousadia; se deixar de ser fanfarrão e firuleiro, será certamente um grande nome para 2014.
Uma palavra necessária sobre a Alemanha. Não vi o jogo contra a Inglaterra, frise-se. É claro que duas goleadas seguidas sobre dois campeões mundiais é de se respeitar. Mas o time da Argentina tem a pior defesa de sua história, uma condição física deplorável e padeceu de falta de técnico (no sentido forte e estrito da palavra), assim como o Brasil. De resto, uma boa vitória sobre ninguém na estréia, uma derrota para a medianíssima Sérvia, uma vitória magra sobre Gana, num jogo absolutamente parelho. No frigir dos ovos, falou-se mais que viu-se. O que eles tem mesmo é um belo time, sim, muito homogêneo, sem nenhum perna-de-pau, e com jogadores acima da média, como o zagueiro Friedrich, o volante Shweinsteigger, o meia Podolski e o excelente Özil. Darão trabalho em 2014.
Uma palavra necessária sobre a Alemanha. Não vi o jogo contra a Inglaterra, frise-se. É claro que duas goleadas seguidas sobre dois campeões mundiais é de se respeitar. Mas o time da Argentina tem a pior defesa de sua história, uma condição física deplorável e padeceu de falta de técnico (no sentido forte e estrito da palavra), assim como o Brasil. De resto, uma boa vitória sobre ninguém na estréia, uma derrota para a medianíssima Sérvia, uma vitória magra sobre Gana, num jogo absolutamente parelho. No frigir dos ovos, falou-se mais que viu-se. O que eles tem mesmo é um belo time, sim, muito homogêneo, sem nenhum perna-de-pau, e com jogadores acima da média, como o zagueiro Friedrich, o volante Shweinsteigger, o meia Podolski e o excelente Özil. Darão trabalho em 2014.
Uruguai x Holanda
Os laranjas não jogaram o futebol vistoso que vinham apresentando, mas foi o suficiente para despachar a limitada (sempre disse isso) seleção celeste. (Diga-se de passagem, também não jogaram bem contra nós. Como já disse, nós perdemos para nós mesmos. Eles chutaram, fora os dois gols achados, uma bola só na nossa meta, quando o Brasil já estava de quatro.) Eficiência é a marca desse time, com dois jogadores que desquilibram, Stejner e Robben, e um xerifaço na defesa, o violento Heitinga.
Frise-se que o Uruguai caiu de pé, bravamente, superando suas limitações com a garra que consagrou o estilo cisplatino de jogar futebol, assim como a propalada violência, que também não faltou. Parabéns à nossa província rebelde.
Frise-se que o Uruguai caiu de pé, bravamente, superando suas limitações com a garra que consagrou o estilo cisplatino de jogar futebol, assim como a propalada violência, que também não faltou. Parabéns à nossa província rebelde.
Último pitaco
Júlio César foi, para o Brasil de 2010, o anti-Didi. Na final de 58, quando tomamos o primeiro gol antes dos 10 do primeiro tempo - e o complexo de vira-latas e demais fantasmas todos voltaram a rondar o Escrete - , o grande Didi, esse monstro da bola, esse mago, um mestre com a redonda nos pés, fez, com as mãos, a maior jogada de sua vida. Foi ao fundo da meta de Gilmar, pegou a bola e saiu caminhando, lentamente, com a criança no colo, conversando com cada um dos jogadores brasileiros, até depositá-la na marca central. O que disse, não sabemos. Mas a imagem é do tranqüilizador, do líder, daquele que chama a responsabilidade para si e chama os outros à tenência. E deu no que deu.
É claro que, ora direis, tanto hoje quanto ontem, as condições históricas já estavam dadas. Mas o fato é que, ajudado pelo bom Fábio Melo, uma espécie de Cerezo-82 (com 10% do talento daquele), o goleirão brasileiro passará para história como a imagem do desequilíbrio que contagiou fulminantemente todo o time. Mais ou menos como se derrubasse o vidro de pimenta enquanto preparava a canja do bebê. Canja que estava prontinha pra gente papar.
É claro que, ora direis, tanto hoje quanto ontem, as condições históricas já estavam dadas. Mas o fato é que, ajudado pelo bom Fábio Melo, uma espécie de Cerezo-82 (com 10% do talento daquele), o goleirão brasileiro passará para história como a imagem do desequilíbrio que contagiou fulminantemente todo o time. Mais ou menos como se derrubasse o vidro de pimenta enquanto preparava a canja do bebê. Canja que estava prontinha pra gente papar.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Uruguai
O time cisplatino mostrou toda sua capacidade de (não) fazer gols. Forlán não jogou nada, Fucile idem, o que significa que a Celeste não veio pro jogo. O grande herói da nação meridional foi, sem dúvida, Suárez, que espalmou o gol certo dos africanos. Está fora da Copa, por certo. Sacrificou-se pela pátria.
Agora, segurem los hermanos.
Agora, segurem los hermanos.
Pena capital
Defendo que um cidadão que perde um pênalti em Copa do Mundo, no último minuto do segundo tempo da prorrogação, deva ser executado sumariamente, em nome dos interesses superiores da nação.
Já era
Essa é minha nona Copa. Vi o Brasil ganhar duas e ser eliminado em sete. De todas, disparadamente, essa foi a bola mais cantada. Não que a derrota, especificamente, tivesse sido cantada, mas a forma como ela veio. Torcer, torcemos. Acreditar, acreditamos, até, em certos momentos. Relevar, relevamos: a empáfia, as arbitrariedades, o politicamente correto, a falta de carisma, de identificação etc. Mas nada disso importa, nem na derrota, nem na vitória.
Cantou-se a bola de que a Seleção não tinha banco; que na necessidade de se precisar substituir uma peça, ou de variar o esquema, na falta, por qualquer motivo, do armador (único) do time, ficaríamos a ver navios. Cantou-se a bola de que não tínhamos um técnico, na hora em que a gente precisasse realmente de alguém que entendesse o que estava acontecendo em campo, pra poder interferir. Dunga tem suas qualidades de líder, tem seu conhecimento dos meios da bola, mas isso é pouco para treinar um time de ponta, que se dirá a Seleção Brasileira. Cantou-se a bola de que alguns jogadores poderiam faltar na hora do pega pra capar.
A bola que ninguém cantou foi que o infalível, o melhor do mundo, o perfeito, o galã, o líder, o campeão Júlio César seria o jogador a enterrar o time. Ainda que tenha tido, reconheça-se, a hombridade de assumir a falha, ainda no calor do fim do jogo; ainda que tenha demonstrado, nesse mesmo momento (e mesmo ainda durante a partida), que realmente carregava no peito o peso, a honra e a responsabilidade do manto canarinho, o fato é que o time sentiu demais a queda de um esteio elevado à categoria de indestrutível. E nisso, a imprensinha safada, tacanha, vendida, baba-ovo, deslumbrada, tem a sua grande carga de responsabilidade. Impressionante perceber que o sr. Galvão, o bobo-da-corte mais bem pago do mundo, não CONSEGUIU dizer em NENHUM momento, que a falha no primeiro gol teria sido do nosso bom arqueiro. Por que não dizer? É proibido? Ele não pode falhar? Mas essa babação-geral faz mal pro time e faz mal pro próprio jogador. E isso, ninguém me tira da cabeça, só porque ele é jogador de um timinho tal, campeão de não sei que porra, que eu nem sei qual é, graças a Deus.
O interessante é que, desde 1990, fala-se muito do “ambiente” da Seleção, do “grupo”. Porque o “ambiente” era péssimo em 90. O “grupo” era desunido em 2006. O “grupo” trouxe o caneco em 2002 etc. etc. etc. Conversa pra boi dormir. Engraçado que, até 1986, ninguém nunca chegou pro Pelé, pro Didi, pro Gerson, pro Rivelino, nem pro Zico, nem pro Sócrates, pra perguntar se o grupo estava unido, se o ambiente era bom. Porque se jogava bola, simplesmente. Ninguém precisava ser amigo, nem desafeto de ninguém, pra justificar uma vitória ou uma derrota. Não jogamos nada em 66, nem em 74. Jogamos pra caralho em 58, 62 e 70. Ponto.
Júlio César, o símbolo maior da ruína do Escrete, deu entrevista na saída do jogo, frisando que o ambiente era maravilhoso, que o grupo estava unido. Viu-se. Tão unido, tão unido, que quando um jogador fraquejou, a espinha dorsal do time foi pra casa do chapéu. Não foi "o grupo" que não teve sucesso, nem "o ambiente" que não era propício. Só disso se tratou nesses anos-Dunga, de preservar o ambiente, de unir o grupo. Jogamos pouca bola, só isso. E nunca, NUNCA antes na história das participações brasileiras nas Copas, perdemos tanto para nossas próprias limitações.
Cantou-se a bola de que a Seleção não tinha banco; que na necessidade de se precisar substituir uma peça, ou de variar o esquema, na falta, por qualquer motivo, do armador (único) do time, ficaríamos a ver navios. Cantou-se a bola de que não tínhamos um técnico, na hora em que a gente precisasse realmente de alguém que entendesse o que estava acontecendo em campo, pra poder interferir. Dunga tem suas qualidades de líder, tem seu conhecimento dos meios da bola, mas isso é pouco para treinar um time de ponta, que se dirá a Seleção Brasileira. Cantou-se a bola de que alguns jogadores poderiam faltar na hora do pega pra capar.
A bola que ninguém cantou foi que o infalível, o melhor do mundo, o perfeito, o galã, o líder, o campeão Júlio César seria o jogador a enterrar o time. Ainda que tenha tido, reconheça-se, a hombridade de assumir a falha, ainda no calor do fim do jogo; ainda que tenha demonstrado, nesse mesmo momento (e mesmo ainda durante a partida), que realmente carregava no peito o peso, a honra e a responsabilidade do manto canarinho, o fato é que o time sentiu demais a queda de um esteio elevado à categoria de indestrutível. E nisso, a imprensinha safada, tacanha, vendida, baba-ovo, deslumbrada, tem a sua grande carga de responsabilidade. Impressionante perceber que o sr. Galvão, o bobo-da-corte mais bem pago do mundo, não CONSEGUIU dizer em NENHUM momento, que a falha no primeiro gol teria sido do nosso bom arqueiro. Por que não dizer? É proibido? Ele não pode falhar? Mas essa babação-geral faz mal pro time e faz mal pro próprio jogador. E isso, ninguém me tira da cabeça, só porque ele é jogador de um timinho tal, campeão de não sei que porra, que eu nem sei qual é, graças a Deus.
O interessante é que, desde 1990, fala-se muito do “ambiente” da Seleção, do “grupo”. Porque o “ambiente” era péssimo em 90. O “grupo” era desunido em 2006. O “grupo” trouxe o caneco em 2002 etc. etc. etc. Conversa pra boi dormir. Engraçado que, até 1986, ninguém nunca chegou pro Pelé, pro Didi, pro Gerson, pro Rivelino, nem pro Zico, nem pro Sócrates, pra perguntar se o grupo estava unido, se o ambiente era bom. Porque se jogava bola, simplesmente. Ninguém precisava ser amigo, nem desafeto de ninguém, pra justificar uma vitória ou uma derrota. Não jogamos nada em 66, nem em 74. Jogamos pra caralho em 58, 62 e 70. Ponto.
Júlio César, o símbolo maior da ruína do Escrete, deu entrevista na saída do jogo, frisando que o ambiente era maravilhoso, que o grupo estava unido. Viu-se. Tão unido, tão unido, que quando um jogador fraquejou, a espinha dorsal do time foi pra casa do chapéu. Não foi "o grupo" que não teve sucesso, nem "o ambiente" que não era propício. Só disso se tratou nesses anos-Dunga, de preservar o ambiente, de unir o grupo. Jogamos pouca bola, só isso. E nunca, NUNCA antes na história das participações brasileiras nas Copas, perdemos tanto para nossas próprias limitações.
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